por Isabella Calzolari | G1 DF
Com cartazes, mulheres questionam veto a determinados tipos de trajes. Proposta prevê proibição a saias curtas, chapéus e decotes acentuados.
Servidoras da Câmara dos Deputados fizeram um ato na manhã de quarta-feira (9) no hall da taquigrafia da Casa em protesto contra as regras de vestimenta que estão sendo analisadas pela Mesa Diretora. O protesto ganhou a adesão de servidores que também seriam afetados pelas regras, caso elas sejam implementadas.
Entre as propostas em discussão está o veto ao uso de saias acima do joelho ou roupas com decotes acentuados, por exemplo. Para os homens, passaria a ser barrado o uso de camisetas de time futebol e de chapéus. O uso de tênis estaria liberado apenas para quem trabalha muito tempo em pé e, ainda assim, sem cores “berrantes”.
A ideia de se criar um “código de vestimenta” foi da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ). “A mudança é para preservar o decoro, respeito e austeridade do Poder Legislativo”, disse a parlamentar. Não há data para que as propostas sejam aprovadas ou rejeitadas.
As mulheres fizeram a manifestação cobertas por um lenço na cabeça e homens colocaram chapéus. As servidoras entoaram em coro frases como “mais ética, menos estética” e “cuide do seu decoro que eu cuido do meu decote”.
A servidora Áurea Silva afirmou que considera as regras abusivas. “A mulher tem que ser reconhecida pelo seu trabalho e não pelas roupas que veste. O lenço na verdade é a expressão do protesto. É um absurdo essa imposição.”
O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) participou do ato e declarou que os parlamentares têm que “se preocupar mais com a ética e o decoro do que com o decote e com a estética” das mulheres.
O servidor Gilson Dobbin apoiou o protesto usando um chapéu. “É um ataque à liberdade das mulheres e da população em geral. Essa é a casa do povo e restringir a roupa que elas têm que usar não faz sentido.”
Ele disse que um dos itens que está sendo analisado é a restrição do uso do chapéu na Casa. “Viemos com o chapéu para mostrar o repúdio à norma. A gente deveria ter vindo de saia, mas quem sabe na próxima vez.”
A assessora do Centro Feminista de Estudo e Assessoria (Cfemea), Joluzia Batista, que participou da organização do ato, afirmou que vê as novas medidas como forma de restrição ao acesso da Casa e como uma “cortina de fogo”.
“Temos que dar visibilidade aos equívocos que estão acontecendo aqui. Por trás desse código está o aumento de restrições para acessar a Câmara. Além disso, eles estão usando esse recurso para mobilizar os movimentos sociais para assuntos irrelevantes.”
A assistente social do Movimento Estratégico pelo Estado Laico, Ivone Duarte, que também participou da organização, declarou que o grupo encaminhou uma carta aos líderes de partidos. “Queremos o apoio dos parlamentares. A mesa diretora não é só de um partido. Queremos que eles se mobilizem e não deixem que essa medida seja adotada.”
A filósofa Dirnamara Guimarães é servidora da Câmara há 31 anos. Ela conta que está se sentindo constrangida com as propostas em discussão. “É uma questão sexista, mais uma vez viramos pecado. Meu decoro não está no que eu visto e sim no meu trabalho. A liberdade também está sendo questionada.”
“O povo não se veste de terno, se veste de camisa, tênis e a medida diz que tem que ter tênis limpo para entrar. Outra coisa é como vão medir isso? Como eles vão medir meu decote, minha saia? O segurança vai ter que ficar olhando para meu peito e minha bunda? Isso é um constrangimento”, disse.
O primeiro-secretário da Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP), afirmou que qualquer um pode protestar e “que não será ele que mandará [alguém] usar burca”.
“Não tem nada ainda sendo analisado porque as deputadas ficaram de me mandar a proposta, mas pediram mais 15 dias. Isso é uma coisa delas e não minha. Vou receber a proposta e vou analisar, mas não chegou nada ainda.”