sexta-feira, 20 de setembro de 2024
Pessoas falsas são piores que os inimigos declarados

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Pessoas falsas são piores que os inimigos declarados

O fabulista francês Jean de La Fontaine (1621-1695) se fez apropriado quando afirmou, em tom jocoso, que, “em vez de humanizar os animais, procurava ressaltar os aspectos animais da natureza humana”. As duas fábulas, a seguir transcritas, demonstram que, para sobreviver no mundo contemporâneo, é preciso estar alerta às artimanhas da astúcia e às armadilhas da dissimulação. Um oponente conhecido é menos danoso que um amigo hipócrita. As pessoas falsas são piores do que aquelas que nos hostilizam.

 

1ª fábula: A rã e o escorpião

O fogo crepitava feroz e avassalador. Na margem do largo rio, que permeava a floresta, encontram-se a rã e o escorpião. Lépida e faceira, a rã prepara-se para o salto nas águas salvadoras, enquanto o escorpião − que não sabe nadar − aterroriza-se diante da morte certa: estorricado pelas chamas ou impiedosamente tragado pelas águas revoltas.

Arguto, e num esforço derradeiro, implora o escorpião:

– Bela rã, leva-me nas tuas costas na travessia do rio!

– Não confio em ti! Teu ferrão é inclemente e mortal − responde a rã.

– Jamais tamanha ingratidão. Ademais, se eu te picar, morte certa para nós dois.

– É verdade − pensou candidamente o bondoso batráquio. – Então suba!

E lá se foram, irmanados e felizes. No entanto, no meio da travessia, a rã é atingida no dorso por uma impiedosa ferroada. Entremeando dor e revolta, trava o derradeiro diálogo:

– Quanta maldade! − exclama a rã, contorcendo-se. – Não vês que morreremos os dois?

– Sim − responde o escorpião. – Mas esta é a minha natureza!

 

2ª fábula: A aranha, o camaleão e o gafanhoto

A aranha, o gafanhoto e o camaleão habitavam o aprazível bosque da cidade. Conviviam a uma distância razoável, pois, reciprocamente, temiam as artimanhas sempre recorrentes. E a aranha foi a primeira a urdir:

– Meu caro gafanhoto, sejamos previdentes e cuidadosos! O camaleão é o rei dos disfarces. Muda de cor e a gente nem percebe.

– É mesmo! − completa o gafanhoto. – Ele fica nos troncos das árvores com cara de “boi-sonso” e é só passar por perto que ele estica aquela língua imensa e… “crau!”.

– Sim, companheiro, sempre alerta! − continua a aranha. – Eu passo o dia fiando, mas é um olho na teia, o outro no camaleão. Você sabe, o seguro morreu de velho. Precaução e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, dizia a minha avó.

– Belos conselhos, Dona Aranha. Esse camaleão é o mestre da desfaçatez, é o rei da dissimulação.

– Vá por mim! Dificilmente eu me engano! E tem mais − disse a aranha sussurrando. – O camaleão tem uma armadilha mortal! Chegue mais perto, meu caro amigo gafanhoto, que lhe contarei.

Ingenuamente, o gafanhoto se aproxima e se enrosca todo na teia. Diante da morte certa, fica a pensar o quanto foi tolo ao confiar na ardilosa aranha.

 

Moral das fábulas

Devemos estar sempre alerta às intenções ocultas das pessoas, pois nem sempre são o que aparentam ser, por isso é essencial conhecer a verdadeira natureza das pessoas antes de confiar nelas. A falsidade pode ser mais perigosa do que a hostilidade aberta, pois se disfarça de amizade enquanto prepara a traição. Pouco ou nada aprendemos com aqueles que sempre concordam conosco.

 

Pensamentos da Sabedoria Clássica à Popular

* “Você tem todo o direito de não gostar de política, mas sua vida terá influência e será governada por aqueles que gostam dela. Portanto, o castigo dos bons que não fazem política é ser governado pelos maus que a fazem.”

Platão (428 a.C.-348 a.C.) foi aluno de Sócrates e fundador da Academia de Atenas.

* “Quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.”

Viktor Frankl (1905-1997), neuropsiquiatra judeu e austríaco, deportado em 1942 para um campo de concentração nazista. Defendeu a tese de que o sentido da vida é encontrar um propósito.

Criou o método chamado logoterapia.

* “Se os porcos pudessem votar, o homem com o balde de lavagem sempre seria eleito, não importa quantos porcos já houvesse abatido.”

Orson Scott (n. 1951), escritor norte-americano, autor de diversos livros de ficção científica.

Jacir J. Venturi, graduado em Matemática e Engenharia pela UFPR, autor de 4 livros, foi professor da Educação Básica e do Ensino Superior. Também foi presidente do Sinepe/PR (entidade que congrega as escolas privadas do PR).

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