Foi somente no dia 05 de maio deste ano que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da pandemia de coronavírus. Apesar do “término” oficial, ainda se recolhe resquícios desse período. A reconstrução dos laços afetivos foi um dos aspectos mais delicados do isolamento e os pais precisaram readaptar as práticas domésticas, o trabalho em home-office e a dinâmica com seus filhos, principalmente os que se encaixam na educação infantil. Foi nesse momento que telas ganharam um papel fundamental: uma babá eletrônica que auxiliou os progenitores a conciliar toda a rotina.
E teve tanto sucesso que continuam sendo utilizadas. Segundo a OMS, crianças menores de 2 anos não devem ter nenhum tipo de acesso. A partir dos 2 até 5 anos, é sugerido apenas 1 hora por dia e entre 6 a 10 anos, o tempo máximo é de 2 horas. Mas seria possível juntar as questões práticas do dia a dia com o tempo de convívio com a prole sem o uso de telas? Este tem sido o grande desafio dos pais.
Para Marianna Canova, pedagoga, psicopedagoga e diretora do Peixinho Dourado Berçário e Educação Infantil de Curitiba (PR), o processo de maternidade e paternidade vem como forma de ressignificar, transformar e mudar o ser. “Claro que existe uma mudança se comparar com a vida de antes. Mas o que nós podemos fazer para tornar a vivência mais leve com filhos?” A virada de chave é entender que, apesar do desafio, a criança é uma completude do ser.
Educar e ter prazer na relação vem com as palavras-chaves responsabilidade e afeto, e servem tanto para os pequenos, no ser individual, como no âmbito de cidadão para o mundo. “As crianças precisam ser vistas como parceiros e não como um trabalho”, afirma Marianna. Ela considera que a parceria é fundamental neste processo, acompanhada da motivação para inserir a criançada nas tarefas do cotidiano sem as telas.
Mas como fazer isso? A psicopedagoga fornece algumas dicas funcionais para a inclusão da criança em situações cotidianas utilizando também ferramentas que auxiliam no desenvolvimento da criança.
Na cozinha
Coloque seus filhos para cozinharem com você. Você pode oferecer frutas e legumes diferenciados e uma faca sem ponta para iniciar a brincadeira. Outra orientação é apresentar a caixa de temperos para eles. Isso faz com que sintam as texturas, aromas e sabores. E aproveite também para ensinar sobre os processos. O cozinhar tem um começo, meio e fim e a refeição pronta é só uma parte dessa ação. Marianna comenta que ao mostrar todas as etapas do cozinhar para a criança, ela tem a oportunidade de aprender a cultivar a paciência e ter um maior envolvimento com a comida.
No trânsito
A sugestão aqui é brincar com as palavras como parlendas (“Hoje é domingo/pede cachimbo/ o cachimbo é de barro/ bate no jarro/ o jarro é de ouro…), trava línguas ou uma simples brincadeira de rima. Essas brincadeiras podem auxiliar no desenvolvimento da consciência fonológica e no processo de alfabetização que irá acontecer mais tarde, explica Marianna. Outros passatempos, como “misturar animais” (um Corugato é uma coruja mais um gato), adivinhas e o canto também se tornam interessantes. E porque não, um podcast? Se caso a criança for um pouco mais velha, vale tentar alguns deles que se encontram distribuídos pelas plataformas digitais. “Não precisa abrir mão da tecnologia, apenas utilizá-la de maneira inteligente”, esclarece a psicopedagoga. A principal questão é usar o tempo no carro de forma engenhosa.
No supermercado
O espaço é apropriado para a criança trabalhar com limite, paciência e educação financeira. Fazer uma comparação de preços entre marcas de um mesmo item introduz os pequenos a ter consciência sobre as finanças. Outro exercício sugerido pela psicopedagoga é estabelecer um valor simbólico (R$ 5, por exemplo) para que seu filho escolha algum item do mercado. Isso também auxilia na construção de uma consciência financeira para ele. A própria escolha de vegetais e frutas no mercado, além de ser um exercício excelente de percepção, também é, na mesma medida, de paciência e desenvolvimento matemático por exemplo como “Filho, me ajude a pegar 10 limões”.
Na hora de dormir
A rotina é fundamental neste momento. Contar uma história para a criança ajuda a trabalhar com a ansiedade (da espera pelo fim do livro) e a curiosidade. Além disso, a leitura antes de dormir, segundo a psicopedagoga, tem vínculo com a aprendizagem, com a paciência e a imaginação. Outra recomendação é falar sobre os sentimentos que seu filho vivenciou durante o dia. Isso faz com que os pequenos reflitam sobre o dia e fortaleça a relação de confiança por causa da escuta do adulto. E por fim, criar uma playlist com diversas músicas relaxantes que ajudem a criança a se preparar para este momento do descanso. E sem telas antes dormir.