Assembleia Legislativa do Paraná ouve especialistas sobre impactos do trânsito no sistema de saúde

Assembleia Legislativa do Paraná ouve especialistas sobre impactos do trânsito no sistema de saúde

impactos do trânsito no sistema de saúde
Audiência pública discutiu forma de diminuir o número de acidentes e, consequentemente, o desperdício de recursos públicos

A relação entre acidentes de trânsito e os impactos profundos no sistema público de saúde foram debatidos no dia 19, terça-feira, em uma audiência realizada na Assembleia Legislativa do Paraná. Os participantes discutiram sobre como acidentes nas vias sobrecarregam o sistema de saúde, resultando em mortes evitáveis e desperdício de recursos. A discussão foi proposta pela deputada Márcia Huçulak (PSD), líder do Bloco da Saúde da Assembleia, e pelo deputado Tito Barichello (União), vice-presidente da Comissão de Segurança Pública da Casa.

O encontro reuniu especialistas, gestores, autoridades e representantes da sociedade para debater o tema, que faz parte das atividades da Semana Nacional de Trânsito, realizada entre os dias 18 e 25 de setembro. Anualmente, a semana reforça ações de educação, fiscalização e engenharia na promoção de um ambiente mais seguro na mobilidade.

De acordo com levantamento divulgado pelo Bloco da Saúde, os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/Datasus) apontam que os acidentes de trânsito representam a segunda maior causa de mortes prematuras no Paraná. No ano passado, foram 2.508 óbitos, sendo os ocupantes de automóveis, motociclistas, ciclistas e pedestres as principais vítimas. O número de mortes no país passou de 335 mil entre 2012 e 2020.

Para a deputada Márcia Huçulak, a Assembleia Legislativa precisa capitanear a discussão, influenciando, assim, na diminuição dos acidentes e seus impactos no sistema de saúde. “Decidimos chamar atenção para o tema e levantar essa bandeira na Assembleia no sentido de que façamos alguma coisa para que evitemos tantas perdas de vidas e tantas sequelas. Hoje, a maior causa de internação no Paraná, no Brasil e em Curitiba são os acidentes, além de ser a segunda maior causa de mortes prematuras, principalmente para homens. Jovens perdem a vida todos os dias, fora aqueles casos em que não há mortes durante o acidente e sim sequelas. Nós precisamos discutir com a sociedade a mudança deste estilo de vida. Com certeza vamos sair daqui com ideias para projetos de lei que poderemos apresentar para contribuir”, afirmou.

Na avaliação do deputado Delegado Tito Barichello, o investimento deve ser na reformulação das políticas públicas voltadas para o assunto. “Como delegado, sempre enfrentei a criminalidade organizada e o crime com a intenção de matar. Hoje discutimos uma situação muito diferente. Não são pessoas criminosas, são cidadãos comuns que não querem praticar ilícitos penais ou administrativos. No entanto, os números de crimes no trânsito são estarrecedores. O instrumento não é uma arma de fogo e sim um veículo. Então, nós temos que repensar as políticas públicas em relação à questão do trânsito. O trânsito é necessário? Ele é importante, imprescindível e não pode parar. Mas temos que repensar o que nós vamos fazer para proteger o próprio motorista, que às vezes por imprudência, negligência ou outro motivo acaba destruindo o seu patrimônio ou até a sua vida”, comentou.

Trânsito

A audiência pública contou com a participação de especialistas das áreas de trânsito e de saúde. Cada um deles contribuiu oferecendo informações acerca do tema, além de apontar para possíveis soluções. Para Rosângela Battistella, superintendente de Trânsito de Curitiba, é preciso reforçar ainda mais ações junto aos motoristas. “É possível pensar em projetos de políticas públicas para tentar resolver essa questão em nossa cidade. Sabemos que os acidentes de trânsito, o alcoolismo, a velocidade, na maioria das vezes é responsabilidade do motorista. Então é importante sempre o debate para trazer essa conscientização, ao lado de políticas de educação. Só assim vamos reverter esta situação”.

O delegado titular da Delegacia de Trânsito, Ivonei Oscar da Silva, lembrou que o grande problema é a imprudência dos motoristas. “O Código de Trânsito consegue prever tudo o que ocorre. Fala-se, então, que as penas são amenas. Mas, analisando, não são tão brandas assim. Algumas preveem até 10 anos de prisão. O difícil é que alguém cumpra esta lei. O que fazer para evitar isso? Já temos políticas públicas, já temos ação de educação”, disse. Para ele, a questão é a conscientização do motorista. “Por exemplo, a 170 quilômetros por hora, não há direção defensiva”, completou.

O capitão Márcio Rodrigues, comandante da 1ª Companhia da Polícia Rodoviária Estadual, revelou que nas estradas estaduais onde a fiscalização é maior, o número de acidentes cai. “O trânsito é direito e responsabilidade de todos. No Paraná, temos em torno de 12 mil quilômetros de rodovias. Cerca de 30% dos acidentes são causas mecânicas; 6% são problemas nas vias; já 64% deles é responsabilidade dos condutores. No fim das contas, esses acidentes têm custo para o Estado. Para reverter esses números, sugiro sempre uma maior fiscalização, com o aumento de tecnologia e efetivo”, opinou.

Saúde

A secretária municipal de Saúde de Curitiba, Beatriz Battistella Nadas, explicou que acidentes de trânsito trazem consequência graves para o sistema de saúde. Ela revelou que os custos destes ultrapassam as despesas com as cirurgias eletivas. “Tudo no trânsito é previsível. Poderíamos usar os recursos gastos para resolver outros problemas de saúde”.

Geci Labres de Souza Junior, diretor do Complexo Hospitalar do Trabalhador, trouxe informações sobre os impactos dos acidentes de trânsito na instituição. “Nós temos um impacto na chegada de ambulâncias trazendo vítimas de acidentes de trânsito todos os dias no Hospital do Trabalhador. Do início do ano até aqui, tivemos em torno de 45 mil acidentes em geral, dos quais 14% são vítimas de acidente de trânsito. Mais da metade são motociclistas. A sociedade tem de olhar para isso. Talvez com o uso maior número de itens de proteção ou cercear a questão da velocidade”, sugeriu.

Já Alcides Augusto de Oliveira, diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, falou sobre um projeto da capital para tentar frear os acidentes. “O programa Vida no Trânsito funciona há mais de dez anos em Curitiba, trazendo o levantamento dos dados das mortes ocorridas nas vias públicas cidade e nas rodovias. Com isso, nós conseguimos traçar o perfil das mortes. Por exemplo, no ano de 2022, as principais mortes ocorridas foram com os motociclistas. Mas nós temos outros públicos também que são acometidos por mortes em acidente, como os pedestres e as bicicletas. Por isso, nós precisamos fortalecer as políticas públicas, a educação e cidadania no trânsito, valorizando a direção segura, o respeito, as sinalizações, além de evitar o uso do álcool. Com isso, poderemos ter uma cidade mais segura e com menos mortes”.

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