O “apagão” de energia elétrica ocorrido no dia 15 de agosto, terça-feira, em 25 estados e no Distrito Federal foi motivo para mais uma disputa improdutiva entre petistas e bolsonaristas a fim de “jogar a culpa” ao adversário. Pouco ou nada se viu, até o momento, em termos de um debate em busca das verdadeiras causas e soluções a um possível problema que possa estar ocorrendo em um setor estratégico, relativo a soberania nacional, como é o abastecimento de energia elétrica.
Privatização
Porta-vozes da esquerda apressaram-se em insinuar que o “apagão” teria algo a ver com a privatização da Eletrobrás. Como se sabe, a esquerda não é favorável a privatização do setor elétrico e tem ensaiado inclusive uma possível intenção de reestatizar a empresa. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, não precipitou-se em afirmar que as causas da pane elétrica teriam alguma relação com a Eletrobrás. O ministro foi cauteloso. Aguardou a chegada de informações técnicas. No dia seguinte, limitou-se a confirmar sobre a causa do apagão: teria sido por “falha técnica” em uma subsidiária da Eletrobrás, no Ceará. Mas, acionou a Polícia Federal e a Abin – Agência de Inteligência Brasileira para investigar melhor, inclusive, aventando-se a possibilidade de sabotagem. Coincidência ou não, o “apagão” aconteceu um dia após a demissão do presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Júnior.
“Lacração”
Quanto a bolsonaristas, limitaram-se a superficialidade da “lacração” na internet, com deputados e comentaristas políticos fazendo referências a “apagão do amor”, ”fizeram o L” e provocações infantilizadas a eleitores do presidente Lula, como se somente estes sofressem as consequências do “apagão”. A impressão é que tentam culpar a todos os eleitores do presidente da República por mais uma pane no setor elétrico do país. Sugeriu-se, até, que a culpa poderia ser da China comunista, uma vez que o setor de distribuição de energia no Brasil foi quase todo vendido para estatais chinesas.
Histórico de “apagões”
Vale lembrar que, nos últimos 24 anos, o país sofreu cinco “apagões”. Este último foi o maior depois do de 2009, no governo Lula, quando afetou 90 milhões de pessoas. No governo Temer, também tivemos outro, em 21 de março de 2018, com maior intensidade e duração nas regiões Norte e Nordeste. No governo Bolsonaro, houve a terrível situação do Amapá, em novembro de 2020, que teve diversos municípios sem acesso integral a energia elétrica durante 22 dias, sendo quatro deles sem acesso algum, após uma explosão em um transformador que acabou revelando uma série de vulnerabilidades do sistema elétrico no estado. Lamentavelmente, trata-se de um problema recorrente e estrutural no país e que transcende governos e ideologias.
Politização do problema
Ao invés da politização do problema, faria bem ao país apurar as causas da “falha técnica” e apontar soluções, medidas preventivas. Afinal, um “apagão” que chegou a duração de seis horas em diversas localidades do país não é pouca coisa. Já a oposição, caberia fazer real oposição no lugar da “lacração “nas redes sociais. Cobrar transparência na investigação do ocorrido e medidas preventivas. Um acidente deste porte, bastante raro, como disse o ministro, em não havendo sabotagem comprovada, revela a vulnerabilidade do sistema. Providências precisam ser tomadas a fim de evitar novas panes.
Prejuízos e transtornos
Se em seis horas de apagão já houve transtornos, perdas financeiras e humanas (hospitais e centros cirúrgicos foram prejudicados), o que pensar se novos eventos mais graves venham a acontecer? Numa economia como a nossa, que ainda patina em crescimento no pós-pandemia, estamos contando com um sistema que acaba de demonstrar, mais uma vez, que não está dando conta. Desta vez, não por incapacidade no sistema de geração, mas, no de distribuição.
Setor estratégico
Como apostar no crescimento econômico sem um setor elétrico robusto e altamente seguro? Como atrair investimentos sem a credibilidade de contar com a excelência de um setor estratégico como o de geração e transmissão de energia elétrica? Essa questão vai muito além de “guerrinhas” de narrativas e de polarização ideológica. É relativa a um fator estrutural no país. A privatização da Eletrobrás pode ter ou não ter a ver com o que aconteceu na terça-feira. Mas, muito anteriormente a privatização da Eletrobrás, já sofremos “apagões” por causas diversas.