A decisão do Governo Federal de taxar as “comprinhas” no e-commerce de empresas asiáticas como, Shein, Ali Express e Shopee tem causado burburinho. A Receita Federal passará a cobrar imposto de importação para compras de pessoas físicas em valores de até 50 dólares por encomenda. O objetivo é evitar que comerciantes que se utilizavam do subterfúgio de se passarem por pessoas físicas para não pagarem imposto deixem de recorrer a essa manobra e passem a recolher o imposto para a Receita Federal. Até aí, tudo bem. O problema é que o verdadeiro consumidor “pessoa física”, também, passa a ser atingido por essa medida. Mira-se o alvo, mas, também, deixa-se um estrago de “balas perdidas”, atingindo quem não tinha nada com isso.
Ampliação da arrecadação
O motivo da decisão é óbvio: ampliar a arrecadação de tributos. O governo estima obter um incremento na arrecadação de R$ 8 bi anuais. Além disso, desde o governo Bolsonaro, já havia uma pressão do setor das grandes varejistas, que apontam concorrência desleal com esses comércios asiáticos. Tanto que, Flávio Rocha, dono da Riachuelo, elogiou a medida do governo. As grandes lojas varejistas têm passado por uma crise sem precedentes, no país. Magazine Luiza, Marisa, C&A , não se encontram em seus melhores dias. A Marisa deverá fechar cerca de cem lojas físicas no país. A C&A sofreu prejuízos durante a pandemia. Sobre Magazine Luiza, já, há algum tempo, que correm rumores de que poderá quebrar. A pandemia só terminou por agravar a situação dessas grandes empresas do comércio varejista.
E foi durante a pandemia que o e-commerce de empresas como, a Shein e outras, obteve um salto nas vendas. O consumidor, sem sair tanto de casa, enfrentando sucessivos fechamentos do comércio nas lojas físicas, somando-se ao fator “precinhos atraentes” dos concorrentes chineses, em especial, encontrou um “achado imperdível” para renovar o guarda-roupa com roupas baratas, porém, um tanto descartáveis devido a baixa qualidade dos tecidos e do acabamento das peças.
Pandemia, crise, inflação
Em meio a crise provocada pela pandemia, muitos desempregados ou perdendo rendimentos como profissionais autônomos, quem é que poderia bancar compras nas grandes varejistas, que têm remarcado preços ao consumidor de tal forma a deixar antigos clientes dessas lojas estarrecidos?
Desaparecimento da classe média
Têm sido comuns comentários nas redes sociais a respeito dos preços exorbitantes encontrados nas etiquetas dessas lojas varejistas que, até alguns anos atrás, eram consideradas comércios “populares” das classes média e média baixa. O fato é que a classe média tem empobrecido. Não somente os pobres estão mais pobres, mas, a classe média também está mais pobre, correndo o risco de entrar em extinção. A pandemia agravou o quadro, pressionando a inflação em todos os setores. O comércio de roupas, por exemplo, sofreu um alto impacto nos preços das matérias-primas.
Grandes varejistas agradecem
A questão é a seguinte: o dono da Riachuelo comemora em declaração a imprensa, e deve estar comemorando junto com os donos da Havan, Marisa e outras do setor. Só quem não comemora é o consumidor que, muito provavelmente, deverá reduzir suas compras na Shein e outras, pois, ficarão bem mais caras. E, talvez, o governo nem consiga arrecadar os R$ 8 bi anuais que espera… Possivelmente, ainda, grandes empresários do setor varejista estejam precipitados nessa “comemoração”, afinal, a taxação não faz milagres. Os consumidores não migrarão automaticamente para o comércio varejista nacional se este não atuar com uma oferta de preços razoáveis. Não são poucos os consumidores que não têm mais condições de pagar os atuais “preços de boutique” de tantas lojas varejistas. É toda uma conjuntura, não é questão de culpar os grandes empresários. Se os preços ao consumidor estão elevados é porque os custos de produção estão altos, além da alta carga tributária e fatores como juros altos. Há lojas do setor varejista com grandes dívidas por empréstimos feitos com os bancos quando os juros estavam mais baixos. Os preços dos aluguéis, principalmente, em lojas de shoppings, também dificultam.
Grande empresariado “chora”
Porém, se os grandes empresários brasileiros já chegaram a esse ponto de “chorar” para o governo dar um jeito de “acabar com a concorrência desleal”, o que dizer do consumidor brasileiro, do trabalhador assalariado, dos profissionais autônomos, dos MEIs ou dos pequenos comerciantes? Estes não têm nem para onde correr, não têm a quem “chorar”. A “revolta das brusinhas”, como tem se apelidado nas redes sociais a taxação da Shein & Cia., pode ser só o começo de uma indignação crescente com a economia, a inflação, a perda de poder aquisitivo do consumidor. O poder de compra do brasileiro está minguando a galope. Nem mesmo os brechós representam uma alternativa mais barata, como antigamente. Há brechós vendendo roupas usadas quase a preços de novas. Infelizmente, no Brasil, sempre os mais pobres é que pagam o pato.