Você certamente já se deparou com um terreno desocupado ou uma construção subutilizada na cidade. São os chamados “vazios urbanos”, verdadeiros desafios para o poder público. O que pouco se discute, porém, é que esses vazios podem ser encarados como um meio para aproximar pessoas e melhorar a infraestrutura de uma região.
Desde comércios e habitações, até parques e praças: qualquer solução é melhor do que um terreno abandonado, que propicia invasões, insegurança e acúmulo de lixo, por exemplo.
A arquiteta Bárbara Becker utilizou o tema de vazios urbanos como objeto de estudo de seu mestrado e passou a comparar a realidade dos Estados Unidos com o que via no Brasil – mais precisamente em Curitiba. “Nas cidades norte-americanas, como Manhattan, não existem muitos terrenos vazios. Se um prédio é demolido, por exemplo, outro prédio, um parque ou uma praça vai surgir ali”, comenta.
Cidades concentradas
Com isso em mente, a arquiteta passou a pensar nos benefícios de ter uma cidade mais concentrada e não precisar se deslocar tanto em busca de serviços ou necessidades básicas. O resultado foi a criação, em parceria com sua sócia Vivian Brune, do projeto “Vazio Urbano”, que rendeu uma participação na exposição Arquitetura para Curitiba – Expo 2017, no Museu Municipal de Arte (MuMA).
Na mostra, renomados escritórios de arquitetura, estudantes das principais universidades da cidade e da Universidade Técnica de Viena, na Áustria, apresentaram soluções inovadoras e discussões pertinentes para ocupar espaços vazios na capital.
“Qualquer terreno vazio numa área urbana, numa área construída, é um vazio urbano. É um terreno que não aproveita a infraestrutura já existente. Em Manhattan, onde eu fiz mestrado, isso não existe; e eu fiquei chocada quando voltei para Curitiba e me dei conta de tantos terrenos assim presentes na capital e na RMC”, revela Bárbara.
De acordo com a pesquisa das arquitetas, Curitiba tem cerca de 73 milhões de m² de terrenos privados subutilizados – lotes vazios, o que significa 4.2 vezes mais do que a área total de parques e praças.
Ocupação consciente
No site do projeto, elas argumentam que os lotes inutilizados podem ser uma ameaça à vida urbana, mas que também carregam um potencial de servir de áreas de recreação e lazer da população enquanto não são ocupados.
“E se ultrapassássemos as noções de público e privado, tornando público o uso dessas propriedades com programas temporários que correspondam às necessidades e expectativas da população?”, questionam.
Para responder a essa pergunta, na época, foram realizadas quatro intervenções em vazios urbanos variados na cidade: cinema ao ar livre, jardim urbano, galeria aberta com artistas locais e evento com música local e artesanato. A iniciativa fez parte do projeto da dupla de arquitetas e contou com a adesão de várias pessoas; provando que esses vazios podem ser aproveitados, promover socialização e ter função social.
Cidades transformadas
Desde a década de 1970, o conceito de vazio urbano vem se transformando. Antes disso, os lugares categorizados assim eram apenas os espaços verdes e áreas de expansão. Com o rápido crescimento das cidades, porém, além desses territórios, os lotes vagos e desocupados espalhados pela cidade – que muitas vezes esperam a valorização econômica – são vistos como vazios urbanos.
Mas não deveriam ser resumidos a isso: são espaços que podem ser ocupados com áreas de serviço, lazer, entretenimento e até habitação para população, com projetos que beneficiam a comunidade e a economia local.
Um exemplo é o projeto Bairru Parc, em Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, que vai ocupar uma área de 560 mil metros quadrados, onde antes funcionava o Autódromo Internacional de Curitiba.
Inspirado nos mais modernos centros urbanos do mundo, o projeto leva a assinatura do Escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados e é baseado nos princípios do novo urbanismo. A ideia é, além de evitar a degradação de uma área com grande potencial, oferecer tudo que as pessoas precisam em um só local, sem precisar de grandes deslocamentos.
Um princípio defendido pelo arquiteto e urbanista Jaime Lerner é de que as cidades devem ser feitas para as pessoas. E ocupar os vazios urbanos de forma consciente e sustentável é uma ótima maneira de realizar essa premissa.