Impor limites aos filhos é um bem necessário, principalmente na infância, pois é um ato essencial para o crescimento e desenvolvimento interpessoal de crianças e jovens. Para manter uma relação positiva e concreta entre pais e filhos é preciso, muitas vezes, determinar regras saudáveis e fazer com que sejam cumpridas. É possível que, em determinadas situações, a tarefa de estabelecer limites pareça árdua e desgastante, mas se for desempenhado de forma objetiva, o vínculo de respeito e compreensão se fortalecerá naturalmente.
Apesar de ser proibida no Brasil, a “lei da palmada”, como é chamada popularmente, de número 13.010, deixa claro a inibição do uso de castigo físico que seja cruel e degradante contra a criança e adolescente, mas, infelizmente, ainda faz parte do arsenal educativo cultural do nosso país.
Recebo com frequência, em meu consultório, pais que ainda acreditam que podem sustentar a educação e relação de respeito por meio de algumas “palmadas”. Mas, do ponto de vista da psicologia, essa prática é equivocada, pois limita a capacidade cerebral das crianças.
A agressividade passada de pais para filhos
À medida em que a criança entende a dor como referência do que é limite, a agressão e o ato de bater tornam-se práticas naturais de se relacionar e solucionar conflitos, sejam entre amigos, familiares e até mesmo desconhecidos. Dessa forma, fica subjetiva a referência de como os pequenos podem agir diante de situações difíceis e, consequentemente, despertam a agressividade do aprendiz, o que não é eficaz a médio e longo prazo.
Ou seja, a famosa “palmada” funciona muito mais como alívio de tensão dos próprios pais. Nesses momentos, é recomendável que tente colocar o respeito pela imagem paterna e materna como primordial e não associar à agressão.
Faz parte do universo infantil e, eventualmente, também dos seres humanos, transgredir as regras. Por isso, é preciso trabalhar, para que a criança tenha uma melhor noção e consciência dos limites impostos. O limite é realmente uma fronteira que cerca, é preciso apresentar à criança um espaço, para que ela esteja bem, que tenha o direito de fazer o que quiser e que consiga beneficiar de liberdades e permissões, norteando-a de forma firme e clara.
O que fazer em momento de tensão?
Então, pelo ponto de vista da psicologia e práticas saudáveis de impor e, o primordial, ensinar a seu filho a importância dos limites, deixo cinco dicas de como praticar isso no dia a dia.
1 – Instruir é mais importante que proibir
As instruções que damos às crianças são bem mais eficientes do que proibir. O coibir vai ao contrário do que queremos, pois as desaprovações vão focar a atenção da criança no comportamento visto como problema, já a instrução vai focar a atenção no comportamento desejado.
Com certeza, a coibição será transgredida. Para enxergar com clareza, imagine que falar para a criança que é proibido correr ao redor da piscina, com certeza, alguns minutos depois, ela vai correr. Já, se explicar que ao correr na borda da piscina, ele ou ela pode escorregar e se machucar, obviamente que haverá uma reflexão por parte de quem está recebendo a informação.
Nesse cenário, as chances de haver uma ação contrária a que você instruiu é baixíssima, pois estará focando a atenção da criança no comportamento desejado, que é mais seguro não correr ao redor da piscina, ou seja, promovendo o aprendizado e não a proibição.
2 – Mantenha uma única palavra
Neste segundo ponto, é importante “economizar” palavras, com intuito de ser direto e firme com a criança. Mais uma vez, para entender melhor, imagine que combinou com seu filho que ele precisará sempre tomar banho ao chegar da escola, isso já está claro. Então, com apenas a expressão “banho”, a mensagem será compreendida e a ação realizada.
Com isso, não será necessário demandar o estresse da mãe ou do pai insistindo que o banho seja tomado, ação que leva ao desgaste da relação com os filhos. A atitude de ser sucinto, pode-se estender a outros eventos também.
3 – Responsabilizar é melhor do que gerar culpa
Como pais, é preferível pensar em responsabilizar a gerar culpa. Dessa forma, promover a reflexão por meio de perguntas realizadas diretamente às crianças têm um efeito mais positivo. Ela vai mobilizar o lobo frontal do cérebro, fazendo com que analise a situação, como no diálogo: “o que tem que fazer para não ‘sair voando’ do acento quando papai ou mamãe freia o carro no trânsito?”. Isso vai gerar novamente a reflexão e o senso de responsabilidade dos pequenos.
4 – Reflita sobre os porquês da punição
Será que realmente as punições e castigos agem de forma efetiva na educação? É importante lembrar que elas vão focar no sintoma e não na causa do problema. Por isso, é necessário haver um elo entre o comportamento realizado e a punição, senão, a criança de fato não aprenderá nada.
Precisamos fazer com que surja o sentimento saudável de culpa, sobre o ato inadequado. Por exemplo, se a criança pegar ou até mesmo furtar um bem material do amiguinho, precisamos fazê-la devolver, com a premissa de que o objeto não a pertence e introduzir os conceitos das normas que temos que cumprir na sociedade. Além disso, demonstrar que a ação efetuada terá uma consequência bastante grave.
5 – O efeito do grito no cérebro da criança
Esse último ponto é essencial a ser abordado, pois gritos durante a infância podem ser altamente prejudiciais!
A pesquisa “Science direct – Child Abuse & Neglect”, realizada pela Universidade de Michigan, em setembro de 2017, informa que o ato de gritar promove o mesmo efeito de uma surra e que, crianças expostas a berros constantes têm chances maiores de se tornarem adolescentes envolvidos com drogas.
Isso acontece porque a fala mais alta e intensa ativa a área do medo no cérebro dos menores, ou seja, tal situação repetidas vezes pode, a longo prazo, desencadear distúrbios de ansiedade, entre outros problemas psicológicos.
O importante, em situações de conflito com os filhos, é lembrar que limites e regras são válidos para todos, independentemente da idade, e mostrar isso a eles fará com que entendam de forma fácil.
Socialmente, os pais precisam seguir as normas, da mesma maneira ocorre com os pequenos, claro que com características diferentes, pois ainda são crianças e estão em processo de aprendizagem e aquisição de responsabilidades.
Ludmila Santoro é psicóloga, pós-graduada em orientação familiar e psicoterapia breve pelo Instituto Sedes Sapientae