Criado nos Estados Unidos, o termo doomscrolling – que pode ser traduzido como “rolagem da desgraça” – resume o hábito sistemático de deslizar os dedos pelas telas de smartphones ou outros dispositivos digitais para acompanhar notícias ruins e tragédias, mesmo que essas informações causem desconforto, tristeza, insegurança ou pânico.
A prática se popularizou durante a pandemia de Covid-19 e chamou a atenção de especialistas, que alertam sobre os riscos da atividade para a saúde mental, os prejuízos à qualidade do sono, aumento nos níveis de estresse e maior sensação de desesperança.
Mestre em Ciências da Educação pela Université de Sherbrooke (Canadá), a psicóloga Daniela Jungles explica que o cérebro é especializado em processar e reagir de forma rápida e eficaz a notícias negativas. A origem está nos primórdios da humanidade, quando uma informação negativa geralmente representava um perigo a ser evitado o mais rapidamente possível.
“Essa capacidade ainda está enraizada em nosso cérebro e, combinada com os algoritmos da mídia online, resulta justamente no fenômeno do doomscrolling: a cada clique, novas informações perturbadoras são exibidas”, diz a supervisora do Serviço-Escola de Psicologia do UniCuritiba – instituição da Ânima Educação, uma das principais organizações de ensino superior do país.
De acordo com a especialista, há outro fator associado à propensão natural em dar mais atenção às notícias negativas. “A neurociência já comprovou que rolar e clicar nos feeds de notícias das mídias sociais acessa um circuito de recompensas no cérebro. Em casos mais críticos, isso pode virar um vício.”
Risco à saúde mental
A valorização das manchetes sensacionalistas é uma tendência na sociedade moderna e, segundo Daniela Jungles, o resultado é uma visão dramática do mundo, o que desperta uma sensação permanente de crise, estresse e ansiedade. “O consumo constante de más notícias pode, inclusive, desencadear quadros de depressão.”
Combinado com as fake news, o doomscrolling aumenta o perigo de as pessoas caírem em teorias de conspiração, acreditando que o mundo não é confiável. O primeiro passo para romper com o ciclo vicioso é tomar consciência dos impactos desse comportamento e questionar o próprio comportamento na internet.
Dicas para controlar o doomscrolling
A professora do curso de Psicologia do UniCuritiba, Daniela Jungles, dá algumas dicas para quem deseja evitar o doomscrolling:
– Defina limites de tempo para navegação na internet, principalmente redes sociais, sites de notícias e aplicativos de mensagens.
– Limite a leitura de notícias a 20 ou 30 minutos por dia. Se tiver problemas para fazer isso, use aplicativos que alertem sobre o tempo de tela diário e/ou bloqueiem o acesso a determinados aplicativos.
– Considere outros comportamentos e recompensas sempre que sentir vontade de pegar o smartphone ou tablet, como se exercitar, passear ou ler um bom livro.
– Assuma um compromisso pessoal: mudança de hábitos exige esforço, mas você deve poupar sua saúde mental.
Lembre-se: não há cura milagrosa para o doomscrolling. Se você não conseguir encontrar uma solução sozinho, procure um psicólogo e peça ajuda.