A prisão relâmpago do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, que está sendo investigado por suspeita de envolvimento em corrupção no MEC, provocou reações interessantes entre eleitores apoiadores do presidente Bolsonaro, nas redes sociais. Não se trata de culpar e condenar o ministro e pastores previamente, sem o devido processo legal. Mas, considerar que se trata de perseguição ao bolsonarismo, já de antemão, também é uma postura inaceitável a quem supostamente pretende contar com um país em que a honestidade e o combate a corrupção estejam presentes em qualquer governo.
Mas, lamentavelmente, é isso o que se vê nas redes sociais e entre jornalistas apoiadores do Governo Federal, a exemplo de comentaristas da Jovem Pan e de Rodrigo Constantino. A ideia inequívoca é tentar desvincular o presidente Bolsonaro do suposto esquema de corrupção no MEC. O próprio Bolsonaro mudou o discurso ao declarar que se há algo de errado no ministério, isso precisa ser investigado. Meses atrás, havia dito em live que colocava “a cara no fogo” pelo Milton Ribeiro. No dia da prisão, o tom já era outro e, até, lembrou que a prisão seria um sinal de que a Polícia Federal atua livremente, sem interferência do governo. Bolsonaro foi inteligente ao assim comentar o caso. É muito arriscado continuar dizendo que coloca a cara no fogo pelo ministro ou quem quer que seja.
E, aliás, o Lula posicionou-se contra a prisão do ex-ministro, da forma que foi feita.
Militância bolsonarista
Mas, o que não dá para entender é a postura da militância bolsonarista. Nas redes sociais, tem sido a tônica uma postura absolutamente acrítica em relação a tudo o que acontece no governo. Os chamados “bolsominions” têm agido de modo semelhante a petistas militantes que, a época da Lava Jato, diziam que tudo era perseguição da imprensa, do Judiciário, da direita. Nada do que era divulgado contra o PT, em termos de corrupção, seria verdade. Sempre aquela postura de quem vê perseguição e “armação” contra o petismo por todos os lados. É muito perigosa essa percepção dos fatos, denotando uma mentalidade bastante maniqueísta, de luta do bem contra o mal. Como se apenas um lado representasse o bem e quem estivesse contra esse lado representaria o mal. No bolsonarismo, tem acontecido o mesmo. Demoniza-se petistas, comunistas, esquerdistas enquanto tudo o que parte da direita bolsonarista passa a representar o bem e a verdade. Parece que não passa pela cabeça desses militantes fanáticos que possa haver corrupção, mentiras, incompetência e enganos vindos da direita. Ou, se passa, consideram que a corrupção de direita é menos grave ou fruto de uma corrupção maior oriunda do PT a qual ainda não se conseguiu combater. Um exemplo disso é que circula pelas redes sociais o argumento de que, se existe corrupção no MEC, ela originou-se lá no passado, a época do governo do PT e o FIES. Enfim, diante de qualquer suspeita de que algo de errado possa estar ocorrendo no governo Bolsonaro, ”bolsominions” usam as mesmas “armas”: ”mas, e o PT, que fez isso e aquilo”? O bolsonarismo, inequivocamente, não existiria sem o antipetismo. Em tudo, é preciso incluir o PT, numa dicotomia medíocre e limitante. Bolsonaristas lembram crianças que se recusam a assumir responsabilidades e que, diante da briga com o irmãozinho, dizem ao pai ”mas, foi ele que começou”. Ora, pensava-se que os eleitores de Bolsonaro haviam votado nele para que as coisas mudassem, que se combatesse a corrupção e que certas práticas do PT estivessem fora de cogitação entre membros do governo. Porém, ao que tudo indica, o combate a corrupção não é tão importante, assim. O importante, mesmo, é combater o avanço da esquerda. Custe o que custar. Com ou sem corrupção, não importa.
Dialética dos contrários
A luta contra o avanço da esquerda tornou-se uma obsessão, uma insanidade, entre tantos brasileiros. É a dicotomia, a dialética dos contrários alimentada, também, pela esquerda, que obsessivamente combate a direita, o capitalismo “selvagem”. Enquanto essa disputa não perder espaço, não haverá espaço para o combate a corrupção, para a competência e o debate público sobre o que é bom ou ruim para o país. A esquerda tem razão em determinadas pautas, assim, como a direita tem suas razões. Quem não busca um consenso, uma razoabilidade entre as partes, não poderá colaborar efetivamente para a construção de um país melhor. Fugir dos discursos radicais e maniqueístas, que pregam que a verdade e o bem estão, apenas, em um dos lados, é condição primordial para sairmos desse abismo polarizado em que o país se meteu.
“O menos corrupto”
Essa disputa cega nos dá a impressão de termos chegado ao ponto em que já não se briga para provar quem é honesto, mas, apenas, quem é menos corrupto. É o resultado que chegamos em razão de apoiadores de ambos os lados não saberem lidar com o contraditório e buscarem soluções fáceis, onde alguém sempre tem de dizer a eles onde está o bem e onde está o mal.