Na semana mais fria do ano, a Prefeitura realizou 3.084 abordagens sociais a pessoas em situação de rua, entre a noite do último dia 15 e manhã de segunda-feira (23/5). O trabalho, que faz parte da Ação Inverno – Curitiba que Acolhe, acontece 24 horas por dia, mas contou com ações intensificadas em todas as noites para oferta de serviços, principalmente acolhimento, a quem estava desprotegido nas ruas.
A cada dia, 1.192 pessoas foram abrigadas nas unidades do município, em média. Convencidas pelas equipes a aceitarem atendimento, diariamente, 103 delas foram encaminhadas para casas de passagem. Nesses locais, elas encontram espaço para higiene, recebem roupas limpas, se alimentam e podem dormir em camas quentes.
Mais da metade das abordagens sociais (1.600), feitas pela Fundação de Ação Social (FAS), coordenadora da Ação Inverno, em parceria com a Defesa Civil, foram baseadas em solicitações que chegaram à Central 156, canal de comunicação da Prefeitura com a população.
“Além dos protocolos que chegam ao 156, a FAS também faz busca ativa e abordagens em locais onde costuma haver concentração de pessoas em situação de rua. Por isso, contamos com a sensibilidade dos curitibanos para que nos avisem sempre que veem alguém nessa condição”, explica o presidente da FAS, Fabiano Vilaruel.
Atendimentos
Durante as abordagens, as equipes da FAS – formadas principalmente por educadores sociais -, falam dos riscos de se ficar nas ruas durante as baixas temperaturas e, em alguns casos, incentivam as pessoas a voltarem para suas famílias. Foi o que aconteceu em 22 situações, ao longo da semana.
“Cada retorno familiar é motivo de felicidade para todas as nossas equipes de abordagem social”, conta Grace Kelly Puchetti Ferreira, coordenadora da Central de Encaminhamento Social (CES) 24 Horas, responsável pelas abordagens sociais realizadas em Curitiba.
Mas nem sempre as pessoas abordadas estão em condições de saúde física e mental e, nos casos mais graves, algumas precisam de atendimento de saúde. Desde o início da Ação Inverno, no último dia 15, 57 pessoas foram encaminhadas para unidades de pronto atendimento, hospitais ou foram assistidas pelas equipes do Samu.
Cobertores
Algumas pessoas abordadas não aceitam atendimento e preferem ficar nas ruas. As recusas chegaram a 176 por dia, em média, na última semana. Nesses casos, as equipes da FAS distribuem cobertores ou mantas térmicas. Na última semana, foram 289 cobertores entregues para que essas pessoas pudessem se proteger das baixas temperaturas.
Os cuidados também se estendem aos animais de estimação das pessoas em situação de rua. Para eles, a FAS oferece caixas de transporte em todas as Kombis do resgate social, além de canis onde podem ser abrigados, enquanto seus tutores também são acolhidos.
“Se não fosse a FAS, estaria todo mundo lascado”
José Fernandes Teixeira Gonçalves, 41 anos, está acolhido na Casa de Passagem Padre Pio, na Praça Solidariedade, Rebouças, e diz que se não fosse a FAS estaria vivendo na rua. “A FAS me ajuda muito, me dá tudo, cama, mesa, banho, oportunidade para eu procurar um serviço”, conta o homem que é pintor e açougueiro profissional.
“Esse frio que está aí e eu vejo a FAS ajudando muita gente, até de madrugada. Se não fosse a FAS estava todo mundo lascado”, completou.
Nascido em Terra Boa, Norte do Estado, Gonçalves, está há seis anos em Curitiba, para onde veio em busca de trabalho. Antes de chegar à capital morou em Portugal, onde ficou mais de quatro anos. Voltou da Europa quando o pai morreu.
“Desde que eu vim pra cá, eu trabalhei um pouco, acabei levando uns calotes de um patrão e fui desanimando e acabei ficando na rua. Fico um tempo na rua, um tempo no serviço. Aí a FAS me ajuda de novo e assim vou”, explica.
O catarinense Alisson Diozzeffer Cordeiro Souza, 36 anos, chegou a Curitiba há três meses e também está acolhido na Casa de Passagem Padre Pio. “Aqui dentro eu almoço, tomo café da manhã, durmo”, conta o homem que ajuda voluntariamente em algumas atividades de limpeza da unidade. “Como dizia minha falecida avó: mente desocupada, oficina de satanás”, brinca.
Souza aconselha a todos que estão na rua a procurar acolhimento da Prefeitura. “Que procurem ajuda porque ficar na rua ninguém merece, não é vida, não é lugar.”