Nos últimos dias, quem apostava no fortalecimento de alguma candidatura de terceira via à Presidência da República viu suas esperanças virarem pó. Não bastasse o recuo, para não dizer, desistência de Sérgio Moro em concorrer a presidente, tivemos o anúncio da pré-candidatura do presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar, à presidência da República.
Piada de mau gosto
Não, não é brincadeira. Parece piada de mau gosto, mas, sua pré-candidatura foi aprovada pelo partido. Isso tudo depois de Sérgio Moro ter saído do Podemos e se filiado ao União Brasil na expectativa de poder viabilizar sua candidatura à presidência em um partido de maior estrutura e mais tempo no Horário Eleitoral Gratuito.
Ex-bolsonarista
Depois dessa, só resta perguntar: quem é Luciano Bivar na “fila do pão”? Ou seja, para o eleitorado, qual o seu potencial de votos? Se, para muitos analistas e caciques partidários, Moro não teria grandes chances de conquistar o Palácio do Planalto por não ter chegado nem a 15% nas pesquisas até março, o que dizer de Luciano Bivar? Alguém lembra do nome de Bivar para além da associação que se faz a Bolsonaro e o rompimento escandaloso que teve com o presidente? Realmente, está bastante complicado acreditar que esse anúncio possa ser levado a sério e que resultará em aprovação nas convenções partidárias…
Blefe?
O lamentável é que, mesmo que seja apenas um blefe, o anúncio termina por “melar” ainda mais as possibilidades de se considerar como viável a consolidação de uma candidatura de terceira via. Creio que, perante a opinião pública, perante a confiança do eleitorado, tem ficado cada vez mais distante acreditar que há desejo dos partidos em investir numa união em torno de um candidato que possa fazer frente a polarização Lula-Bolsonaro. Nem mesmo, pensar em mais de uma candidatura de expressão para a terceira via.
Articulação
O Ciro Gomes que, teoricamente, poderia ser este candidato, tem demonstrado que está mais perdido que o próprio Moro, no que se refere a capacidade de articulação. Moro ainda tem a justificativa, muito plausível, de ser completamente inexperiente. Mas, Ciro Gomes, seria impensável, pelas décadas de estrada com que conta…
“Racha” dentro do MDB
Temos ainda a senadora Simone Tebet, por seu excelente desempenho na CPI da Covid-19. Contudo, o MDB, como sempre, encontra-se rachado. Uma ala quer ir com Lula, a exemplo de Renan Calheiros e José Sarney. E outra, ainda aposta na senadora, a exemplo de Michel Temer e o presidente nacional da sigla, Baleia Rossi. Quem não a quer, diz que não dá para cometer a loucura de investir em uma candidata com 1% nas intenções de voto. A intenção do MDB é buscar ampliar sua bancada no Congresso Nacional. Uma bancada que perdeu espaço para o Centrão nas últimas eleições. Muito por conta da candidatura à presidência de Henrique Meirelles, em 2018, que obteve fraco desempenho. O partido, talvez, não queira arriscar outro fiasco e comprometer sua bancada. Em 2018, ao menos, foi o próprio Meirelles que bancou sua candidatura. Com Tebet, seria necessário investir recursos do partido.
Tucanato em decadência
Quanto a candidatura de João Dória, no PSDB, também há um partido rachado, além de decadente, sem identidade e repleto de vaidades e disputas internas. Dória fez um excelente governo em São Paulo, gerando resultados muito bons em infraestrutura, na geração de emprego e renda, e outros. E, mesmo assim, o tucanato dá espaço para Eduardo Leite cogitar uma candidatura. Eduardo Leite é jovem, remete a renovação, faz um estilo que promete atrair o eleitorado meio liberal, meio progressista, mas, como gestor, não tem nada a oferecer. O Rio Grande do Sul continua um estado falido, é bom lembrar. Na gestão fiscal, Leite não foi capaz de fazer a diferença.
Reforço da polarização
Salvo algum evento que prometa uma reviravolta, e em política, não se pode descartar fatos assim, a tendência é o reforço da polarização Lula e Bolsonaro. Tudo por que os partidos que poderiam compor uma união da terceira via, ou lançar mais de um candidato competitivo, não estão interessados. Simplesmente, por que não querem perder tempo e dinheiro com candidaturas a presidência quando o mais interessante e lucrativo é fechar com Lula ou Bolsonaro. Integrar a base aliada de um desses dois eventuais governos parece ser muito mais vantajoso aos partidos. O foco é investir nas candidaturas ao Congresso Nacional. Pois, é lá onde tudo se decide, principalmente, as emendas, as verbas, os orçamentos secretos, os cargos, enfim, o “balcão de negócios” de sempre. Pra quê se incomodar e gastar com fundo partidário para candidaturas a presidente da República se é mais fácil embarcar com Lula ou Bolsonaro e dividir os lucros e dividendos no próximo governo? Inclusive, Lula sabe disso e tem trabalhado para minar as candidaturas da terceira via, já tendo conversado com o MDB, por exemplo, durante jantar recente. Comenta-se que há sete diretórios do partido, em sete estados do Nordeste, que irão com Lula. Simone Tebet, experiente, deve estar sabendo que a aprovação de sua candidatura tem uma possibilidade muito remota.
Moro, a espera de um “milagre”
Quanto a Moro, creio que somente um milagre seria capaz de viabilizar sua candidatura num cenário como esse, cheio de ninhos de cobras mais preocupadas com suas candidaturas pessoais e em abocanhar os fundos eleitorais para interesses próprios no lugar de um projeto coletivo dentro do partido.
Candidaturas avulsas
Somente uma reforma político-partidária poderia mudar esse quadro de estagnação e desmobilização dentro da maioria dos partidos. Talvez, com a possibilidade de se lançar candidaturas avulsas. Enquanto nada muda, e as eleições presidenciais de 2022 continuam neste terreno pantanoso, nebuloso, as pesquisas apontam que tem diminuído a diferença entre Lula e Bolsonaro. Lula continua na liderança, mas, o presidente Bolsonaro tem crescido nas intenções de voto. E Lula, ao que tudo indica, parou de crescer, chegou ao teto. O mais provável é que nenhum dos dois vença no primeiro turno. Será um grande desperdício se nenhuma candidatura de terceira via emplacar como contraponto a uma polarização que mais se dá por falta de boas opções ao eleitorado do que propriamente por preferência a Lula ou Bolsonaro.