Como dizia Millôr Fernandes, “a infância não, a infância dura pouco. A juventude não, a juventude é passageira. A velhice sim. Quando um cara fica velho é para o resto da vida. E cada dia fica mais velho.” Seguindo o curso natural da vida, temos a curiosidade da infância e os porquês de quem descobre o mundo. Então vêm os riscos nas aventuras da adolescência. A busca pela verdade na vida adulta e o desprezo e marginalização na velhice. Que sequência assustadora.
Não vendemos carros velhos, mas sim seminovos. Não vendemos roupas velhas, mas sim seminovas. Então por que taxamos de velhas as pessoas “jovens a mais tempo”? Não poderiam ser pessoas “seminovas”? Veja bem, a juventude que usufrui das tecnologias e benefícios da modernidade não deveria esquecer que isso só é possível porque os idosos de hoje foram os protagonistas desta evolução lá atrás.
Quando o médico gerontologista, psiquiatra e autor norte-americano Robert Neil Butler descreveu o preconceito e a discriminação contra idosos, em 1969, ele identificou alguns elementos principais que definem o Ageismo. Mas o centro de tudo é a prática discriminatória tendo como base a idade. Quem define com qual idade deixamos de ser produtivos? Ou de sermos criativos? Qual a idade para não interagir socialmente? Qual a idade para sermos desprezados após uma vida de contribuição social, familiar e profissional?
“A discriminação em relação a pessoas (…) mais velhas é prevalente, não reconhecida, desafiadora e tem consequências de longo alcance para nossas economias e sociedades”, disse Maria-Francesca Spatolisano, secretária-geral adjunta de Coordenação de Políticas e Assuntos Interinstitucionais do Departamento de Economia e Assuntos Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU). De fato, atitudes discriminatórias pelo fator idade têm implicações sérias e abrangentes para a saúde e o bem-estar das pessoas. Segundo um relatório divulgado pela OMS, em março de 2021, estima-se que 6,3 milhões de casos de depressão em todo o mundo sejam atribuíveis ao envelhecimento.
Sentir que ainda tem muito a oferecer, mas ser impedido disso simplesmente porque as estações dos anos deixaram marcas em seu rosto pode despertar sentimento de impotência e de amargura. É claro que a força não é mais a mesma. É claro que a velocidade deu lugar ao raciocínio mais objetivo. É claro que a paciência – aquela antes usada com as crianças que aprendiam – agora precisa ser devolvida a eles pelas crianças que cresceram e ocupam os espaços criados/deixados pela geração madura.
No entanto, relatório publicado em março de 2021 pela ONU sobre discriminação por idade revela o contrário quando se trata de empatia. Segundo o levantamento, estima-se que uma em cada duas pessoas no mundo tenha atitudes discriminatórias que pioram a saúde física e mental de pessoas idosas e reduzem sua qualidade de vida. Isso custa às sociedades bilhões de dólares a cada ano.
A inclusão de pessoas “mais velhas” precisa ser garantida, seja no mercado de trabalho, seja no convívio social ou familiar. E precisa acontecer por meio de políticas públicas e pela sociedade. Todos compreendemos, porém é preciso aceitar o envelhecimento como algo natural e inevitável. Isso pode colaborar para uma visão mais humanizada e retirar o estereótipo de que velhice é um fardo a ser carregado tanto pela sociedade quanto por quem envelhece.
Por fim, não há dúvidas de que o preconceito por etarismo, ou ageismo, deve ser combatido. A educação é o caminho para que o pensamento discriminatório seja expurgado da nossa sociedade e a pessoa idosa seja vista como ativa e participativa das transformações de sua própria vida. Em última instância, que seja pela velha máxima “trate os outros como gostaria de ser tratado”. E que o jovem de hoje não se esqueça que é apenas a matéria-prima para o idoso de amanhã.
Julio Cezar Bernardelli é mestre em Tecnologia e Sociedade, graduado em Administração, especialista em Gestão e Liderança e professor do Centro Universitário Internacional Uninter