Nasce o político Sérgio Moro a partir de filiação ao Podemos
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Nasce o político Sérgio Moro a partir de filiação ao Podemos

Sérgio Moro, até que, enfim, assumiu oficialmente sua decisão de ingressar na política. O último dia 10 foi a data de sua filiação ao Podemos, em Brasília. Foi o assunto do dia na imprensa. Afinal, trata-se de uma provável pré-candidatura a presidência da República em 2022.Se, realmente, confirmar-se, em uma futura convenção partidária, será, sem dúvidas, a principal candidatura de terceira via para fazer frente a polarização Lula-Bolsonaro.

Moro surpreendeu em seu discurso durante a cerimônia de filiação. Foi além do discurso de combate a corrupção, discorrendo sobre um projeto para o país que inclui planos para a economia e o social. Defendeu o livre comércio, a iniciativa privada, a privatização de estatais ineficientes, uma reforma tributária competente, o estímulo ao empreendedorismo. E deixou claro que o discurso liberal deve se aliar a preocupação com o social, com o combate a pobreza e erradicação da miséria. Condenou o capitalismo “cego”, desprovido de compaixão e solidariedade para com os miseráveis.

Combate a corrupção

Ainda vale pontuar as alfinetadas que deu nos corruptos de esquerda e direita, falando num fim a mensalões, petrolões, rachadinhas. E enfatizou seu motivo de ter saído do governo Bolsonaro. A promessa de “carta branca” no combate a corrupção, acordada quando do convite para assumir o Ministério, não foi cumprida.

Discurso forte, simples e direto

Para um político que acaba de nascer, oficialmente, o ex- juiz saiu-se muito bem. Discursou de forma simples, direta, clara, coerente, firme e concisa. Em não se tratando de um homem afeito a discursos eloquentes, pode-se dizer que já é perceptível uma evolução em seu modo de se dirigir aos eleitores. Acredito que não seria bem-vindo depararmos eventualmente com um Moro candidato maquiado pelo marketing, transformando-o numa pessoa que não é, a fim de se tornar mais palatável ao chamado “povão”.

A popularidade que lhe cabe foi conquistada justamente por seu jeito mais compenetrado, sóbrio e contido. Em razão de seu trabalho e atitude como juiz e ministro. Criar um personagem para conquistar a plebe não seria uma boa ideia de marketing, colocando-o em risco de perder sua essência. Que sempre foi a de um juiz sério e discreto, a de um homem amante dos livros, dos estudos e do trabalho duro e planejado.

Sem populismo

O desafio de seu futuro staff de campanha será torná-lo um candidato que saiba se comunicar com o povo de forma clara e direta, cativante e convincente, traduzindo as expectativas das parcelas da população mais desfavorecida, também. Mas, sem apelos ao populismo. Sem demagogia. Como bem disse o senador Oriovisto Guimarães, ”animadores de auditório já temos muitos”.

Contraponto à polarização

De fato, creio que o potencial eleitoral do ex-ministro deve representar um contraponto importante ao populismo de direita e de esquerda, representados por Bolsonaro e Lula, respectivamente. A incógnita é saber até que ponto a maioria do eleitorado está, mesmo, farta de populismo, da demagogia, de animadores de auditório.

Por ora, o que se tem por certo é que Moro lançará uma candidatura em 2022. Mas, não necessariamente a presidente da República. Cogita-se, também, uma candidatura ao Senado. Para a presidência, há uma longa caminhada que envolve muita articulação em busca de apoios. Não somente de partidos, mas de setores decisivos da sociedade, a exemplo do empresariado, do agronegócio. É bem possível que Moro já esteja atraindo organicamente muitos grupos e setores interessados em apoiá-lo na disputa pelo Palácio do Planalto em razão do peso que seu nome tem nessa disputa, tendo sua filiação já movimentado e alvoroçado tanto as hostes bolsonaristas quanto esquerdistas. Os que não querem nem um lado, nem outro, já devem estar se aglutinando em torno do novo filiado ao Podemos.

Plano de governo

Outro passo importante será começar a apresentar um plano de governo consistente, abordando possíveis integrantes-chave das equipes, a exemplo de um provável ministro da Economia.

Sem idolatria

De resto, é torcer para que o entusiasmo e a esperança de muitos com uma eventual candidatura de Moro não se transforme em militância, idolatria e fanatismo. Temos exemplos de sobra do quanto essa forma passional e irracional de entender a política é nefasta. Se Moro vencer a disputa, não será nenhum “salvador da Pátria”. Terá muitos desafios, a começar por garantir a governabilidade sem corrupção e toma-lá-da-cá. A lida diária com o Congresso Nacional continuará a mesma. E deverá exigir de Moro e equipe muita habilidade, jogo de cintura, capacidade de diálogo. Será difícil sem um Congresso amplamente renovado em seus representantes e em suas práticas viciadas já enraizadas. Mas, não se pode desistir da luta por um país melhor e mais justo, por mais árdua que seja.

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