Educação e bom humor: como a alegria pode facilitar aprendizado

Educação e bom humor: como a alegria pode facilitar aprendizado

Um estudo sobre a fisiologia do riso, realizado nos Estados Unidos, sugere que rir ajuda a aumentar a ventilação pulmonar e libera endorfina, a mesma substância que o organismo produz quando pratica exercício físico
De acordo com neurociência, ensinar de formas criativas e divertidas ajuda a prender a atenção e contribui para que o cérebro absorva melhor os conteúdos

Rir durante uma aula pode ser uma maneira de tornar o conteúdo mais interessante e atrativo para os estudantes, diz a neurociência. Há alguns anos, uma série de especialistas de todo o mundo tem se dedicado a estudar os efeitos do bom humor no aprendizado de crianças e adolescentes. E um ponto é certo: estar bem humorado contribui para que o cérebro consiga assimilar novos conhecimentos.

Um estudo sobre a fisiologia do riso, realizado nos Estados Unidos, sugere que rir ajuda a aumentar a ventilação pulmonar e libera endorfina, a mesma substância que o organismo produz quando pratica exercício físico. Ou seja, dar risadas é literalmente bom para a saúde. A bióloga e neurocientista Larissa Renata Bianchi explica que, na hora de estudar, o bom humor ajuda a memorizar informações rígidas. “O cérebro humano busca bloquear conteúdos pesados e dar sentido para o que é divertido. Então, o bom humor faz com que o cérebro sedimente melhor as informações e contribui para que haja uma atenção mais focada por parte de quem está ouvindo”, detalha. Segundo a especialista, pessoas bem humoradas têm mais facilidade para extrair o todo de uma explicação, em vez de se prender em pequenos detalhes. Isso favorece a absorção do conhecimento.

Muitos autores sinalizam que o bom humor influencia o desempenho dos estudantes. Avner Ziv, que foi professor do Departamento de Psicologia e Educação na Universidade de Tel Aviv, em Israel, escreveu diversos livros sobre o assunto. Em uma pesquisa realizada em 1988, Ziv dividiu uma mesma turma em dois grupos e ofereceu a eles o mesmo conteúdo. Enquanto o grupo 1 foi instruído com bom humor, o grupo 2 foi instruído de maneira formal. Ao final do semestre, aqueles que tinham estudado com alegria apresentaram 86,4% de aproveitamento. O outro grupo ficou em 73,1%. Além do desempenho acadêmico, o humor pode, ainda, estar relacionado à capacidade de memorização. O próprio Ziv concluiu que esse impacto positivo ocorre porque seres humanos lembram melhor informações que tenham gerado emoções. Mais recentemente, conclusões como essa vêm sendo confirmadas pela neurociência, que prova, dia após dia, que as emoções têm um papel fundamental no processo de aprendizagem.

Alegria é igual a inteligência

Para o humorista Diogo Almeida, que também já foi professor, essa é uma constatação que pode ser feita frequentando qualquer sala de aula. “Sempre que pensamos em quais professores marcaram nossa trajetória escolar, em geral nos lembramos daqueles que tinham bom humor, que traziam atividades fora da caixa”, conta Almeida. Há alguns anos, Almeida trocou as escolas pelos palcos de stand-up e ganhou fama falando justamente sobre o cotidiano de professores e alunos. Durante os sete anos em que esteve à frente das carteiras, a alegria sempre foi uma das marcas de seu trabalho pedagógico.

Mais que empírica, essa percepção é científica. De acordo com Larissa, a alegria e o sentir-se bem têm um efeito físico no cérebro. “O que sabemos é que o bom humor influencia a maneira como os circuitos neurais são formados e a maneira como o cérebro retém as informações”, descreve a neurocientista. Quando se fala em aprendizagem, portanto, recorrer ao bom humor é uma forma de ajudar o cérebro a fazer conexões que solidificam o que ele está aprendendo.

“Se o assunto é muito sério e trazemos para o ensinar uma analogia com algo cotidiano, ou modificamos a voz, ou fazemos um personagem, ou usamos uma paródia, por exemplo, esse assunto imediatamente se correlaciona a algo mais leve, o que faz muito sentido para o cérebro”, pontua. A neurocientista destaca ainda que, dentro do que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe como competências socioemocionais, o bom humor é uma ferramenta fundamental. “O senso de humor é uma maneira eficaz de se comunicar. Precisamos nos lembrar de que nossos neurônios espelhos copiam o comportamento do outro. Então, ser bem humorado faz com que os outros sejam bem humorados também e se conectem mais facilmente conosco. Pessoas com senso de humor comunicam-se mais e mais assertivamente”, afirma.

Bom humor não é prazeroso para todos os cérebros

Entretanto, como acontece na maior parte dos aspectos da vida humana, até mesmo a alegria precisa contar com uma dose de bom senso. Larissa ressalta que, para quem tem dificuldade em enxergar o lado bom das coisas, o excesso de bom humor pode incomodar. “Não podemos ensinar o tempo todo por meio da diversão porque essa postura não é prazerosa para todos os cérebros. Muitas abordagens podem ser facilitadas se incluirmos senso de humor, mas é preciso respeitar o limite de cada estudante”, adverte.

Almeida lembra, no entanto, que é importante não ultrapassar os limites entre o gargalhar e o ensinar. “Tudo em excesso pode ser prejudicial. Há uma linha muito tênue, porque o humor tem um pé na ironia e no sarcasmo. O professor precisa fazer a ligação entre as piadas e os conteúdos que estão sendo trabalhados. Não é só contar a piada, é preciso passar conhecimento, também”, ressalta.

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