Presidente da Comec afirma que, no início da pandemia, sistema de transporte coletivo enfrentou sua maior crise durante toda a história

Presidente da Comec afirma que, no início da pandemia, sistema de transporte coletivo enfrentou sua maior crise durante toda a história

Gilson Santos, presidente da Comec (Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba)
Em entrevista exclusiva concedida ao jornal A Gazeta Região Metropolitana, o Presidente da Comec (Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba), Gilson Santos, afirma que, durante a pandemia, o órgão tem fiscalizado constantemente os níveis de lotação do transporte coletivo nos municípios em que opera e feito ajustes necessários nas linhas para controlar a superlotação. Apesar da polêmica na imprensa e de reclamações da população, Santos frisa que as linhas têm operado com até 65% da capacidade. Inclusive, mesmo com a volta da bandeira amarela em julho, a demanda dos usuários do transporte público ainda está em apenas 60% do habitual verificado antes da pandemia.

A Gazeta Região Metropolitana: Recentemente, o senhor e o governador Ratinho Júnior estiveram reunidos com o secretário de Mobilidade da Cidade do México para conhecer o sistema de transporte público e a integração de diversos modais naquela cidade. O que pode ser extraído do encontro que possa ser utilizado como modelo para a Grande Curitiba?

Gilson Santos: Primeiramente, é preciso compreender que a Cidade do México e sua região metropolitana possuem cerca de 22 milhões de habitantes. São dois estados do Paraná juntos em uma única região. E isso exige soluções, por vezes, consideradas utópicas, mas que trazem resultados interessantes. A cidade já conta com ônibus, metrô e, agora, inaugurou um sistema de teleférico, que irá atender a cerca de 50 mil usuários por dia. Para efeito de comparação, o nosso atendimento no município de Fazenda Rio Grande, por exemplo, transporta hoje cerca de 20 mil usuários pagantes por dia. O que demonstra a robustez deste sistema implementado por lá. O que podemos extrair dessa experiência é a importância da integração entre os diferentes modais. A Cidade do México sofre, também, com a atuação de vans clandestinas e uma das maneiras de se combater este tipo de serviço, atraindo mais usuários para o sistema regulamentado, foi criando um sistema integrado onde o usuário pode utilizar os diversos modais fazendo o uso de um único cartão. Uma solução simples, mas muito eficiente. Aqui, apesar de não termos metrô ou teleférico, e termos um sistema bastante integrado, ainda podemos ampliar, principalmente, as integrações temporais, ampliar as integrações em pontos estratégicos como, terminais, criar novas faixas exclusivas para ônibus e expandir e fomentar ainda mais o uso de modais alternativos como a bicicleta.

A Gazeta: Em Curitiba, há 37 km de linha férrea, cortando bairros do Sul e Leste. Há muitos anos, reivindica-se um novo traçado para a linha férrea fora da capital. Como estão os estudos e articulações políticas com o Governo Federal, por se tratar de concessão federal, para essa mudança? O que o projeto de construção de um novo contorno ferroviário pela Região Metropolitana prevê?

Gilson Santos: Este é um projeto que vem sendo estudado pelo Governo do Estado por meio da Secretaria de Estado do Planejamento e Ferroeste e que obviamente demanda bastante tempo, investimento e envolvimento de diversos órgãos e entidades dos mais diversos níveis. A Comec acompanha este trabalho, tem total interesse em que ele, de fato, ocorra, mas ainda é cedo para passar um panorama de quando teremos o início do projeto sendo implementado. Vale lembrar que o projeto que está sendo desenvolvido busca não somente desviar as linhas férreas da RMC, mas transformar o novo trecho no segundo maior corredor de transporte de grãos e contêineres do país, unindo dois dos principais polos exportadores do agronegócio brasileiro e ficando atrás, apenas, da malha ferroviária de São Paulo. É, portanto, um projeto muito grande e importante, e que vem recebendo todo apoio necessário por esta gestão do governador Ratinho Júnior.

A Gazeta: Durante a pandemia, muito tem se criticado o nível de lotação dos ônibus do transporte público. O que a Comec tem feito para diminuir o número de passageiros por veículo? Houve realmente retirada de veículos em circulação durante a pandemia?

Gilson Santos: Logo no início da pandemia, o sistema de transporte coletivo enfrentou uma queda na demanda de usuários que chegou a 80%. Foi, certamente, a maior crise enfrentada em toda a história deste sistema. A queda de usuários afeta diretamente a arrecadação do sistema e a sua manutenção. Nós vimos isso acontecer em diversas cidades pelo país. Empresas fecharam as portas, atrasaram salários, tivemos greves, entre outros fatos. Apesar da grande dificuldade, o sistema coordenado pela Comec não teve um único dia de paralisação, mas alguns ajustes foram necessários. Apesar da opinião pública não ter esta percepção, a oferta de veículos foi reduzida em apenas 20%. E isso, apenas, nos primeiros dias de operação. Aos poucos, este sistema foi retornando ao normal. É importante ressaltar, também, que, segundo determinação legal, estes veículos estavam circulando com apenas 65% das suas capacidades. Muito abaixo do habitual. Porém, um veículo com capacidade de 140 pessoas, com 65% da capacidade ainda transporta 91 usuários. O que passa a impressão de lotação. Mas, tecnicamente, esta não é a realidade. Obviamente, 91 pessoas não é o ideal em um momento de pandemia. Para alguns, o ideal seria 10 pessoas, o que é completamente inviável. Ao mesmo tempo, constatamos, durante toda a pandemia, que as “lotações” ocorriam em períodos muito específicos do dia. Em linhas que contavam com 70 viagens no dia, por exemplo, apenas uma ou duas saídas chegavam à lotação permitida. E, para isso, foi feita uma grande campanha pedindo que usuários e empregadores flexibilizassem seus horários. A solicitação foi pouco compreendida e atendida pela população. O que, de fato, é lamentável. Jogou-se toda a responsabilidade de uma pandemia para um sistema que, antes mesmo deste período, já enfrentava grandes dificuldades e que sempre teve, em todo o mundo, essa característica, com picos no início da manhã e final da tarde.

A Gazeta: Qual o percentual de queda na circulação de passageiros durante a pandemia? Esses números já voltaram a subir em razão da mudança para a bandeira amarela e reabertura gradual das atividades comerciais e de serviços?

Gilson Santos: Ainda enfrentamos uma demanda de cerca de 60% do habitual e uma das grandes discussões é exatamente como será este “novo normal” que tantos falam. Provavelmente, o sistema de transporte coletivo levará muitos anos para retornar aos patamares anteriores ao da pandemia, ou, talvez, nunca volte. É algo que será muito debatido daqui pra frente.

A Gazeta: Em Pinhais, os vereadores encaminharam ofício pedindo por mais ônibus em circulação em razão de superlotação em todas as linhas. Segundo os vereadores, a Comec atendeu ao pedido para algumas linhas. Quais foram essas linhas que passaram a circular com mais carros? Os vereadores pedem mais ônibus em todas as linhas.

Gilson Santos: Primeiramente, é importante destacar que não existe situação de superlotação. Ainda, mantemos a operação com 65% da capacidade dos veículos e realizamos diversos ajustes em horários e itinerários buscando manter este percentual. Somente neste ano de 2021, já foram realizados 168 ajustes até a presente data. Recentemente, tivemos o reforço em 5 linhas que atendem ao município de Pinhais. São elas: C01 – PINHAIS / RUI BARBOSA, C11 – JARDIM HOLANDÊS, C13 – ÁGUA CLARA, C17 – V.MARIA ANTONIETA, e C20 – JD.CLÁUDIA. E o acompanhamento das linhas com os ajustes necessários é feito constantemente pelos fiscais da Comec. É importante destacar, também, que é a Comec que realiza o atendimento urbano do município de Pinhais, pois, o mesmo não possui sistema próprio, e que este sistema é subsidiado com recursos do Governo do Estado, sem qualquer contrapartida do município, diferente de outras cidades. O sistema vive um momento de crise e todo o trabalho agora é para que não entre em colapso.

A Gazeta: Como está o sistema de conferência da lotação nos ônibus em tempo real, patrocinado pela Associação Comercial e em fase de testes? Tem ajudado na obtenção de um bom monitoramento?

Gilson Santos: O sistema ainda se encontra em fase de ajustes, por se tratar de um piloto. Mas, certamente, o desejo do governo é a ampliação desta tecnologia.

A Gazeta: Há previsão de aumento no valor das tarifas para o ano que vem? De quanto deverá ser o reajuste?

Gilson Santos: Não há. Vale lembrar que a tarifa praticada atualmente foi homologada em 2019, ou seja, estamos há dois anos sem reajustes. Esta diferença tem sido custeada pelo Governo do Estado, que vê no transporte coletivo uma ferramenta de diminuição de desigualdades e criação de oportunidades para aqueles que mais precisam.

A Gazeta: Quantos ônibus, linhas e municípios a Comec coordena? Há uma unidade nas decisões ou fica a cargo de cada município definir tarifas e outras medidas? Qual o papel da Comec nesse gerenciamento?

Gilson Santos: Considerando as variações como linhas paradoras, diretas, de finais de semana, etc., a Comec coordena atualmente 231 linhas que atendem a dezenove municípios da RMC. Toda a gestão é feita pela Diretoria de Transporte da Comec, que possui contato direto e constante com as prefeituras e secretarias municipais. Existe, ainda, o Conselho do Transporte Coletivo, o qual integram todos os municípios da RMC e que busca debater as questões do sistema de forma compartilhada.

A Gazeta: O número de usuários tem caído nos últimos anos, como ocorre em Curitiba? Quantos passageiros/dia circulam, em média, atualmente, nos municípios da Região Metropolitana coordenados pela Comec?

Gilson Santos: Sim. Assim como em Curitiba, a RMC também identificou uma queda no número de usuários. Isso ocorreu principalmente pelo grande incentivo dos governos anteriores ao uso do automóvel sem o mesmo investimento em sistemas de transporte coletivo. Se somados os anos de 2015 (-6,25%), 2016 (-8,96%), 2017 (-10,32%) e 2018 (-3,28%), podemos constatar uma queda no número de usuários de mais de 25%. Algo muito significativo e com impacto muito negativo para o sistema. Em 2019, porém, a queda foi de -0,19%. Praticamente zero. Nós creditamos esta estabilização às diversas ações realizadas no início desta gestão buscando incentivar e valorizar o uso do transporte coletivo, entre elas, lançamento de novas linhas, novas integrações, novos veículos, reajuste da passagem abaixo da inflação, integrações temporais, a inédita tarifa diferenciada fora dos horários de pico, entre outros fatores. No ano de 2020, porém, tivemos a pandemia, que desestabilizou todo o sistema e não serve de parâmetro nesta avaliação.

A Gazeta: Houve mais alguma linha que havia parado de funcionar durante a pandemia e que já voltou, a exemplo da linha Curitiba-Piraquara direto?

Gilson Santos: Somente neste ano, tivemos 23 novas operações. São elas: D66 – PIRAQUARA/SANTOS ANDRADE (DIRETO), A07 – TAMANDARÉ (LAMENHA) / PRAÇA 19, L79 – RIO BRANCO / PRAÇA 19 (VIA TERM. TAMANDARÉ), H12 – ARAUCÁRIA / PORTÃO, H97 – ANGÉLICA / DR. MURICY, K71 – ITAPERUÇU/ PRAÇA 19, S59 – CIRCULAR SANTA FÉ/TERMINAL ROÇA GRANDE, N61 – CAMPINA GRANDE DO SUL – GUADALUPE, O61 – BORDA DO CAMPO – GUADALUPE, A04 – TAMANDARÉ / CABRAL, E79 – JD. IZAURA / GUADALUPE (VIA JD. IPÊ), N12 – EUGÊNIA MARIA / JD. PAULISTA, N24 – JOÃO PAULO II / ÁREA INDUSTRIAL, N23 – JOÃO PAULO II, N61 – CAMPINA GRANDE DO SUL – GUADALUPE, N63 – EUGÊNIA MARIA – GUADALUPE, O31 – SANTA CÂNDIDA – CARON (VIA Q. BARRAS), O61 – BORDA DO CAMPO – GUADALUPE, I40 – QUATRO BARRAS – PIRAQUARA, O13 – PALMITAL – RIB. TIGRE, D02 – PENDULAR NORTE, E67 – CTBA/BRAGA VIA OURO FINO e E99 – SÃO JOSÉ / GUADALUPE (via T. CENTRAL).

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