A CPI da Pandemia, a cada dia, traz um capítulo mais execrável que o outro em sua forma de atuação extremamente parcial. A quarta-feira (07/07), por exemplo, foi tensa, culminando na prisão do depoente Roberto Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Mistério da Saúde. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), pediu a prisão de Dias após concluir que ele teria mentido em seu depoimento, com base em supostas contradições entre o que disse e o conteúdo dos áudios encontrados no WhatsApp do depoente Luís Paulo Dominguetti, cabo da PM e que se apresenta como vendedor de vacinas. Dias ficou algumas horas detido na Polícia Legislativa do Senado e foi liberado após pagamento de fiança no valor de R$ 1.100.
Conclusões precipitadas
Como se vê todos os dias, a CPI tem ultrapassado todos os limites do bom senso e do minimamente aceitável. O Congresso Nacional já realizou incontáveis CPIs, com depoentes dos mais diversos naipes, inclusive, é bastante crível pensar que muitos deles mentiram descaradamente em comissões parlamentares passadas. Alguma vez, anteriormente, sequer, cogitou-se mandar prender algum deles? Aliás, quem pode concluir algo apressadamente, somente com base em uma longa série de áudios de Whatssapp, conversas que, de acordo com O Antagonista, revelam-se imensas, demandando uma longa e apurada análise? O próprio site disse que tem colocado uma equipe para avaliar minuciosamente os áudios das conversas, ou seja, parece que há muito material a ser analisado no telefone celular de Dominguetti. Mas o senador Omar Aziz, louco para exercer um autoritarismo descabido, conclui, sozinho, que Dias mentiu, sem sequer esperar a conclusão dos trabalhos finais da CPI para determinar se há materialidade para “incriminar” alguém. A CPI é uma investigação meramente de caráter político, que se dá na mesma esfera, podendo resultar ou não, após a conclusão dos trabalhos (e somente após essa finalização), em investigações pelo Ministério Público e Polícia Federal. A Comissão tem ultrapassado funções e se antecipado aos fatos promovendo um espetáculo político e midiático bastante absurdo.
“Tribunal” de exceção?
Conclusões apressadas, com base em avaliações pessoais, subjetivas e políticas, tão somente, têm marcado o tom da CPI, aliás, desde seu início. Depoentes humilhados, como a dra. Nise Yamaguchi, e ameaçados de prisão, como Fábio Wajngarten, foram episódios dos mais dramáticos, indignantes a quem consegue observar os fatos com alguma imparcialidade. Quando não é para defender a “tese” já estabelecida na mente e desejo dos integrantes da CPI de que o Governo Federal é “genocida” e culpado pelas mortes por Covid-19, a certeza é de que esse depoente será maltratado pelos membros da comissão. Quando o depoente vai para acusar ou criticar o Governo Federal, só faltam os senadores membros estenderem um tapete vermelho a ele.
Provocação às Forças Armadas
Na mesma quarta-feira, os absurdos não pararam por aí. Aziz foi além em seus rompantes de “coroné” e “concluiu”, sozinho, que há militares corruptos em cargos no governo, dentro do Ministério da Saúde, em especial. Disse, na CPI, que, “membros do lado podre das Forças Armadas estão envolvidos com falcatruas”. Após essa declaração, o clima esquentou, mesmo. O ministro de Estado da Defesa, Walter Braga Netto, e os comandantes das Forças Armadas emitiram nota, na noite da quarta-feira, repudiando as declarações do presidente da CPI. O documento afirma que a narrativa do senador, “afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável”. A nota foi compartilhada pelo presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais.
Narrativa do “golpe militar”
Se há integrantes das Forças Armadas em cargos do governo que estejam envolvidos em corrupção, quem deve apontar e provar isso é a Justiça e a polícia. Com essa declaração em tom provocativo, afrontoso, o senador transmite a impressão de que quer desafiar os militares, incitando uma crise institucional e dando voz a narrativa da esquerda de “golpe militar”. Talvez, seu intento tenha sido justamente esse: encontrar um pretexto para reforçar a tese de que o governo Bolsonaro é golpista, prevendo uma reação desproporcional das Forças Armadas.
Bem… Tudo o que o ministro da Defesa e as Forças Armadas fizeram foi o mínimo esperado, emitindo, naturalmente, uma nota de repúdio. Mas, houve veículos de imprensa, como o Jornal do Brasil, que interpretaram-na como uma “ameaça” insinuando que as Forças Armadas estariam dispostas a atentar contra a democracia. Mas, quem lê a nota de repúdio, não encontra nenhuma ameaça, tão somente a defesa da credibilidade e imagem das Forças Armadas e da democracia, do respeito às leis.
Porém, a nota de repúdio tem sido um prato cheio para a esquerda, que anseia encontrar sinais de “golpe militar” à vista em tudo, como quem procura pelo em ovo. Lamentável e muito desnecessária toda essa crise provocada por rompantes de senadores ávidos por antecipar campanhas eleitorais de 2022 dentro da CPI.