Neste domingo, dia 15, milhões de eleitores vão às urnas em todo o país para escolher o prefeito e vereadores de cada município. Em meio a uma grave pandemia ainda sem hora para acabar, a campanha eleitoral deste ano foi a mais desafiadora de todos os tempos. Restrições sanitárias dificultaram em muito a vida dos candidatos, que tiveram de limitar suas atuações significativamente para não desrespeitar a necessidade de distanciamento social. As mídias sociais na internet nunca foram tão contundentes em buscar substituir o corpo a corpo dos candidatos. Muitos analistas acreditam que a reeleição deverá ser enormemente favorecida por conta desse cenário atípico de campanha. Aqueles candidatos que já estão no poder, além de contarem com a força da máquina administrativa a seu favor, já seriam mais conhecidos do público, estariam mais em evidência e, portanto, estariam em larga vantagem. Principalmente, em relação a candidatos novatos, estreantes e que não contam com grande visibilidade e, muito menos, dinheiro para se sobressaírem com propaganda.
“Favoritismo” à reeleição
Pesquisas de intenção de voto realmente confirmam o favoritismo de alguns candidatos à reeleição, a exemplo do prefeito Rafael Greca (DEM), em Curitiba, e da prefeita Marli Paulino (PSD), em Pinhais. Mas, não creio que se possa dizer que se trata de uma regra, visto que há um fator bastante importante a pesar nessas eleições. A pandemia trouxe um desafio a mais aos gestores das cidades, explicitando como cada prefeito e autoridade pública abordou o enfrentamento à Covid-19, seja na área da saúde pública, diretamente, ou em relação a medidas de impacto extremo na sociedade e economia, a exemplo dos sucessivos decretos municipais impondo ou liberando atividades comerciais, de serviços, escolas e outros. Impossível foi, a qualquer prefeito ou governador, agradar a todos. Houve reclamações e sentimentos indignados de todos os lados. Acredito que o clima pode ter pesado para muitos prefeitos, engrossando o coro dos descontentes.
Crescem abstenções, votos nulos e brancos
Outro dado preocupante é o grande número de abstenções, e de votos brancos e nulos previstos para esse pleito. A projeção é do diretor do Instituto Opinião de pesquisa, que especula que o número de ausentes e dos que não optarão por nenhum candidato será muito grande, maior do que nas últimas eleições. Um percentual que apresenta tendência de crescimento, aliás, já registrado nos últimos pleitos, e que, neste ano, deverá se consolidar. O maior motivo? A pandemia e suas medidas de distanciamento social não seriam o principal motivo, mas, sim, um exponencial crescimento do desinteresse pela política. Por pura desilusão, decepção e descrença de que a política seja capaz de promover mudanças positivas à vida do cidadão. De fato, o brasileiro tem andado cada vez mais descrente e desiludido com a política. A classe política tem ampliado seu descrédito perante a população como nunca se viu antes, num processo iniciado há cerca de uns vinte anos. Com razão, o eleitorado não deve ter motivos para “botar fé” na maioria dos políticos de nosso país.
Eleitor “desiludido”, eleitor “pé no chão”
Contudo, há um lado positivo nessa chamada desilusão com a política. Afinal, não é benéfico que se tenha ilusões com a política ou com qualquer coisa na vida. Toda ilusão está fadada à desilusão. O brasileiro tem deixado de ser ingênuo, talvez, e caído na real, a respeito de muitos políticos. Mas o lamentável é a opção pelo desinteresse como “saída” para tal desilusão. A saída mais madura e inteligente seria cair na real e com muito pé no chão entender que ninguém vive sem política, pois ela está presente em nosso dia-a-dia, em todas as áreas e momentos. Afastar-se dela não resolve. Só piora a situação, pois, o fato de revelar desinteresse não fará com que a política desapareça e deixe de atuar e influenciar a vida de todos nós. Estar mais consciente e responsável de suas escolhas como eleitor seria a alternativa viável. A única.
Promessas vazias e fake news
Parar de acreditar em promessas vazias, em papo furado de populistas, em fake news, boatarias e fofocas, e eleger candidatos honestos, competentes, sérios e verdadeiramente comprometidos é a única alternativa digna. Falar, até papagaio fala. Políticos que se munem de mera retórica deveriam deixar o eleitor, no mínimo, desconfiado. Votar com inteligência e responsabilidade é não se deixar levar por ilusões pregadas por oportunistas e demagogos. Muitas vezes, o bom político é aquele que faz e diz o que ninguém gostaria, pois é preciso sinceridade e honestidade em todos os atos e falas. E a realidade pode impor medidas duras, impopulares e uma comunicação mais realista sobre os problemas e desafios enfrentados. Então, a desilusão com a política deveria ser a via natural de quem está iludido e precisa cair na real. Ninguém vive de ilusões. Vivemos de realidade, que, muitas vezes, é bem dura e complicada.
Escapismo
Assim, seria fundamental que o eleitorado entendesse que não é fugindo de uma realidade complexa que encontrará mudanças. Deixar de votar, de exercer a cidadania, é um mecanismo de fuga que não leva a nenhum progresso. Não há outro jeito quando vivemos em sociedade. Como cidadãos, não podemos nos abster de participar, os mais prejudicados serão nós, mesmos. As decisões dos governantes recaem sobre nossas cabeças, gostemos ou não de política. Tenhamos ou não votado em algum candidato. Para finalizar, fica uma expressiva reflexão trazida pelo filósofo grego Platão, que nos deixou dois aforismos atemporais. “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política. Simplesmente, serão governados por aqueles que gostam” e “o preço a pagar por tua não participação na política é seres governado por quem é inferior”.