Na noite de sábado (05/09), o pleito municipal da capital contou com uma surpresa, inesperada à maioria do eleitorado. O forte pré-candidato a prefeito de Curitiba, deputado federal Ney Leprevost (PSD), anunciou nas redes sociais sua desistência em concorrer à prefeitura nas eleições de 2020. O motivo foi o antecipado anúncio do governador Ratinho Jr. (PSD) de que deverá apoiar o candidato à reeleição Rafael Greca (DEM). Até então, o governador vinha dizendo que deveria se manter neutro no primeiro turno.
Porém, aos observadores mais atentos, já seria possível antever esse posicionamento de Ratinho Jr. quando da filiação do vice-prefeito Eduardo Slaviero Pimentel, no PSD, em abril passado. O acordo entre Greca e Ratinho Jr. de dar guarida ao vice-prefeito no partido certamente dificultaria, em muito, senão, inviabilizaria, a candidatura do colega do PSD, Ney Leprevost, que licenciou-se da Secretaria de Estado da Justiça, Família e Trabalho, em junho passado, para dedicar-se à campanha. O governador praticamente o convocou para voltar à secretaria, deixando Leprevost numa saia-justa. Provocar um racha no PSD em torno de uma disputa com Greca e Pimentel não seria uma solução inteligente.
Perda para o debate democrático
Como bem afirmou o pré-candidato desistente em suas redes sociais, é melhor recuar agora para dar um passo maior futuramente. Afinal, não teria grandes chances de vencer numa convenção do PSD e, caso vencesse, seria inviável obter apoio do partido durante a campanha. De qualquer forma, se, pessoalmente, a decisão foi a mais acertada para Leprevost, quem perde é o eleitorado por contar com um candidato qualificado a menos na disputa, empobrecendo o debate. Quem perde é Curitiba por não mais contar com um contraponto importante à gestão atual. Ney quase venceu o prefeito Rafael Greca nas eleições passadas. Do ponto de vista da democracia, é algo a lamentar, pois perde-se uma oportunidade de maior reflexão e de troca de ideias e propostas com o eleitorado. Os comentários de pesar na página do deputado federal foram notórios por parte de dezenas de apoiadores que afirmaram estarem tristes com a desistência, bem como não mais saberem em quem votar.
Greca estaria reeleito no primeiro turno
Com a desistência de Leprevost, as análises, de forma geral, dão como certa a reeleição do prefeito Rafael Greca já no primeiro turno, pois, ele aparece em todas as pesquisas como franco favorito, com amplo percentual de vantagem. Contudo, todo mundo sabe que não se ganha eleição de véspera e que a cautela é a grande conselheira em campanhas eleitorais. O sentimento de “já ganhou” nunca deve dominar o espírito de uma campanha. O pensamento do eleitorado costuma mudar muito até os últimos dias de campanha, podendo, até, tornar-se imprevisível conforme o desenrolar dos fatos.
Pandemia e seus efeitos eleitorais
Não é este o momento de dar como certa a reeleição de Greca, muito embora, sua gestão tenha sido bem avaliada ao longo de todo o mandato. Indiscutivelmente, Greca é o mais forte candidato no momento, e sua gestão conta com boas obras e méritos o suficiente para serem colocados na vitrine da campanha. Mas, o clima, ao menos nas redes sociais, não anda tão favorável assim ao prefeito. Muitos comentários de eleitores insatisfeitos com o enfrentamento de Greca à pandemia podem ser encontrados. Acredito que a possibilidade de um segundo turno é bastante realista. A incógnita, por enquanto, é quem será esse candidato que possivelmente disputará o comando da capital com o prefeito no segundo turno. Um candidato que tem grandes chances é o deputado estadual Delegado Fernando Francischini (PSL), que pode bem representar o eleitor conservador bolsonarista. A avaliação da gestão do presidente Bolsonaro, em Curitiba, certamente exercerá um peso importante na decisão do eleitor. Tudo vai depender de como estará a avaliação de Bolsonaro em Curitiba até o dia das eleições, marcadas para 15 de novembro. O ex-prefeito de Curitiba e deputado federal Gustavo Fruet (PDT) também está na corrida, querendo voltar à prefeitura. Não tendo sequer conseguido chegar ao segundo turno, quando perdeu a reeleição para Greca, nas eleições passadas, a probabilidade é de que não consiga novamente emplacar um percentual acima de 20% dos votos válidos.
Novos nomes em vantagem
Neste cenário de muitos eleitores fartos de velhos nomes e “velhas novidades”, novos nomes podem obter vantagem com a saída de Leprevost, a exemplo do médico e empresário João Guilherme Moraes, do Novo; de Caroline Arns, do Podemos e do deputado federal e ex-prefeito de Pinhais, Luizão Goulart (Republicanos). João Guilherme tem feito uma pré-campanha marcante nas redes sociais, batendo forte na gestão atual, principalmente, no tocante ao enfrentamento da pandemia. Caroline Arns de Santa Cruz Arruda é professora, formada em Administração e Direito, filha do Senador Flávio Arns (Podemos) e sobrinha-neta da saudosa fundadora da Pastoral de Criança, Zilda Arns, e apesar de desconhecia do eleitorado, conta com sobrenome famoso. E o apoio de dois senadores de peso de seu partido: o pai e o senador Alvaro Dias.
Ex-prefeito de Pinhais na disputa
Por sua vez, Luizão Goulart também está sempre presente nas redes sociais, promovendo lives, encontros, bate-papos sobre temas relevantes e de interesse nacional e local, ao mesmo tempo em que tem explanado sobre todas as atividades de seu mandato na Câmara Federal. São três novos nomes que apresentam grandes chances de crescimento nas intenções de voto, em especial, o deputado federal Luizão Goulart, que já é bem mais conhecido do público curitibano, tendo obtido uma expressiva votação na capital em sua eleição para deputado federal. No total, Luizão recebeu 141.730 votos, sendo o quarto mais bem votado no Paraná. A favor de Luizão consta também sua expressiva votação à reeleição a prefeito de Pinhais em 2012, onde obteve 94% dos votos válidos.
Campanha atípica e tortuosa
Como bem colocou o deputado federal Ney Leprevost, neste ano, a campanha será muito atípica, por conta de uma pandemia que tem demorado para enfraquecer, dificultando a campanha ‘corpo a corpo’, os jantares de adesão, as reuniões e eventos. A comunicação com o eleitor, além dos debates, da mídia tradicional e do horário eleitoral gratuito, se dará de forma mais intimista nas redes sociais. A grande massa de eleitores não tem o hábito de participação política ativa nas redes sociais, porém, lá estão os formadores de opinião que naturalmente influenciarão os demais eleitores. Uma expectativa que pode trazer um diferencial é um eventual apoio de Leprevost a um dos candidatos. O deputado federal disse que vai apoiar um nome, mas que certamente não será Greca. Se realmente vier essa declaração de apoio, não se descarta uma transferência de votos de parte dos eleitores de Leprevost para este candidato que venha receber seu apoio. A conferir.