Esta é uma doença capaz de infectar de maneira rápida e que ainda não tem cura. Há mais de 4 meses, vivemos uma pandemia com a qual nunca imaginamos lidar. São várias as frentes de pesquisa para que possamos vencer a batalha contra o coronavírus, mas a prevenção e o cuidado ainda são as melhores formas de tratamento.
Nesse tempo, muitas foram as pessoas que tiveram contato com a doença, muitos se recuperaram, porém muitas vidas se perderam. Os relatos nem sempre ganham a atenção devida, mas o alerta é sempre válido. “Quem tem ou teve a Covid-19 e foi da forma mais leve, deve agradecer a Deus, porque não é uma gripe forte, é uma doença que suga nossas forças, que tira nossa energia. Não nos deixa seguir a vida, nos incapacita a continuar, porque a falta de ar e o cansaço são fortes demais”, conta a moradora do bairro Weissópolis, Lisianne Motta. Além dela, outros seis familiares seus contraíram a doença.
Lisianne relata que, no dia 26 de junho, sua mãe sentiu sintomas leves de gripe, dor de cabeça e de garganta e achou que era um resfriado. “Dois dias depois, sentiu enjoo após almoçar e os sintomas gripais aumentaram, com febre, dor de cabeça e tosse. No dia 30 de junho, ela foi até a Unidade de Saúde para fazer o teste da Covid e foi orientada a fazer um raio-x do pulmão”, conta.
No dia 1º de julho foi a vez de Lisianne e do pai apresentarem alguns sintomas. “Comecei a sentir uma forte dor de cabeça e, também, dor de garganta. Já meu pai começou a tossir e ter dor de garganta. No dia seguinte, bem cedo fui até a Unidade de Saúde do Weissopólis e lá fiz o teste. Meu irmão e minha irmã também haviam acordado sentindo sintomas de gripe. Orientei que procurassem a Unidade de Saúde para que fizessem o teste. O mesmo aconteceu com minha tia de 67 anos”, relata.
“Ficamos todos em isolamento. Dias depois veio a confirmação, e todos nós testamos positivo. Continuamos em isolamento, cada um em sua casa, porém minha mãe e meu pai começaram a ter muita dificuldade para respirar. No dia 7 de julho, após contato com a unidade de saúde, os levei ao hospital. Na triagem minha mãe foi separada de nós, porque estava com pouca oxigenação. Imediatamente, encaminharam ela para receber oxigênio, porém não havia vaga no hospital em que estávamos para internação. Teriam ainda que verificar para qual hospital ela iria. Eu estava com febre, muita tosse e alguma falta de ar também, mas ainda tinha que levar meu pai para consultar”, conta.
Segundo Lisianne, ele estava com algumas alterações, mas o médico autorizou que voltasse para casa, com a indicação de que se piorasse deveria retornar ao hospital. “Meu pai voltou para casa e continuei no hospital até a madrugada do dia seguinte, na espera de uma vaga e da ambulância especial que faz a remoção de pacientes com Covid. Conseguimos uma vaga para minha mãe no Hospital São Vicente, na madrugada do dia 8 de julho”, relembra.
Na manhã seguinte, Lisianne foi encaminhada para fazer um raio-x e detectaram que ela estava com pneumonia. “Uma sequela causada pela infecção da Covid. Comecei o tratamento com antibióticos e corticoide. No dia seguinte, minha tia, que estava hospedada em minha casa, começou a passar muito mal. Levei-a ao hospital. Após a consulta foi internada; felizmente havia vaga no próprio hospital”.
E as idas e vindas a hospitais não pararam por aí. “No dia 10 de julho, eu estava me sentindo muito mal, porém minha irmã estava com falta de ar e precisava de socorro para ir para o hospital. Ela também ficou internada. No dia seguinte, meu pai teve uma piora, além da febre e falta de ar, sentia muita dor no peito e cansaço. Meu irmão o levou ao hospital, onde foi internado direto e encaminhado para o oxigênio, pois a falta de ar estava intensa. Sorte que tinha vaga. Ainda nesse dia soubemos que nosso tio estava sedado e entubado também por causa de Covid. Em nenhum momento tivemos contato com ele, foi uma triste coincidência da vida. Dia 12 de julho, domingo, tentei contato com meu irmão, foi difícil conseguir, pois ele se sentia muito cansado até para atender ao telefone. Fomos para a UPA, ele fez radiografia e acabou ficando internado por lá. No dia seguinte, minha irmã recebeu alta, mas meu irmão foi transferido para o Hospital do Trabalhador, foi internado na UTI. Os médicos me falavam que havia a possibilidade dele ser entubado. Senti muito medo”, desabafa.
Lisianne parou de ter febre, mas os demais sintomas não diminuíam. “Em contraponto, minha mãe teve alta e no outro dia meu pai também. Contei aos meus pais sobre o estado de meu irmão e o risco que estava correndo. Minha mãe teve uma piora e na sexta-feira, dia 17, foi internada novamente diagnosticada com embolia pulmonar e está em tratamento”.
No domingo, dia 19, o irmão dela saiu da UTI e na quinta-feira, dia 23, recebeu alta. O tio apresentou melhora por algum tempo, mas infelizmente não resistiu. E como se não bastasse perder um ente querido, em tempos de pandemia não há espaço para despedidas. “Dia 22 de julho, quarta-feira, recebemos a pior notícia, meu tio havia falecido. Não haveria nenhum tipo de homenagem, nem rápida, o enterro é classificado como ‘direto’, não há direito de nenhum familiar ver o falecido, o corpo sai do hospital e, no caso dele, foi direto para o crematório”, relata Lisianne.
A mensagem que ela deixa a todos é enfática. “Se cuidem, cuidem de quem vocês amam. É impossível saber se vai ser acometido com a forma leve ou a forma grave da doença. E posso garantir que ficar doente é ruim, mas é o de menos; muito pior é ver quem amamos sofrendo”, conclui.