Estado vive a pior estiagem dos últimos 50 anos e só deve normalizar em setembro ou outubro.
O Governo do Estado promove uma série de medidas para minimizar o impacto da crise hídrica provocada pela maior estiagem dos últimos 50 anos, que reduziu o nível dos rios e reservatórios de abastecimento de água de todo o Paraná. A economia de água por toda a população, porém, é fundamental para evitar o desabastecimento nos próximos meses. De acordo com o Simepar, o volume de chuvas no Estado só deve se normalizar em setembro.
A conscientização e participação da população foram pontos dos mais destacados na entrevista coletiva com representantes do Governo do Estado, no Palácio Iguaçu, na quarta-feira (27). No encontro, foram apresentadas a situação climática do Estado e o impacto da crise hídrica no abastecimento de água e no fornecimento de energia, além de outros setores.
Participaram da coletiva o secretário de Estado do Desenvolvimento Sustentável e Turismo, Márcio Nunes; os presidentes do Instituto Água e Terra (IAT), Everton Costa; e do Simepar, Eduardo Alvim; os diretores de Meio Ambiente da Sanepar, Julio Gonchorosky; e de Operações, Paulo Alberto Dedavid; o gerente do Centro de Operação da Geração e Transmissão da Copel, Ricardo Rodrigues; e o professor e pesquisador da Universidade Federal do Paraná, Eduardo Gobbi.
“Cada gota de água é importante. Toda a sociedade precisa estar mobilizada para reduzir o uso e evitar ao máximo o desperdício”, destacou o secretário Márcio Nunes. “O Paraná enfrenta, ao mesmo tempo, a pandemia da Covid-19 e uma das piores crises hídricas da sua história. E é possível traçar um paralelo entre essas duas situações. Da mesma forma em que é preciso usar máscara e álcool para evitar a transmissão do vírus, também é preciso que as pessoas façam a sua parte para que não falte água”, enfatizou.
Importantes bacias hidrográficas do Estado estão com os menores volumes de água em décadas. No Rio Iguaçu, é o menor volume em 90 anos e o Rio Tibagi está com o nível mais baixo dos últimos 41 anos. “A crise é real, é forte e é histórica. Se não nos conscientizarmos e fizermos um uso racional, vai faltar água para abastecimento”, afirmou o diretor de Meio Ambiente da Sanepar.
CURITIBA E REGIÃO
A situação mais crítica é na metade leste do Estado, com impacto maior na Região Metropolitana de Curitiba, onde o nível médio das barragens da Sanepar está em 43%. São quatro reservatórios responsáveis pelo abastecimento de 3,5 milhões de pessoas: o de Iraí está com 17% da capacidade, o Passaúna com 41,42%, o Piraquara I com 61% e o Piraquara II com 100%.
A Sanepar opera em um sistema de rodízio do fornecimento na RMC, com um dia sem água e quatro dias de abastecimento. Como não há previsão para chuvas em volume significativo para normalizar a vazão de rios e regular o nível das barragens, a companhia seguirá trabalhando neste cenário, com análise técnica diária da situação dos mananciais e a busca por alternativas para manter a população abastecida.
Uma opção é a captação emergencial de água de fontes alternativas, como lagos, rios e cavas que hoje não são usados para o abastecimento. A Sanepar estuda a possibilidade de repassar à Barragem do Passaúna a água de uma pedreira próxima, além de utilizar o reservatório da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), da Petrobras.
CONSCIÊNCIA
“É fundamental que as pessoas entendam que esse rodízio vai continuar por muito tempo, não há previsão de que acabe antes de setembro ou outubro, porque a estiagem é gigantesca”, explicou Gonchorosky. “Mais fundamental ainda é a consciência da população. Os rodízios e captações emergenciais não são suficientes se não houver economia, uso racional e zero desperdício”, destacou.
PREVISÃO
No período de um ano, o volume de chuvas no Paraná diminuiu de 30% a 90%, variando em cada região. A estiagem foi ainda mais intensa no último trimestre, entre os meses de março e maio.
“As previsões apontam que ainda vai chover abaixo do normal no Paraná durante o inverno, que já é um período historicamente mais seco”, explicou o presidente do Simepar, Eduardo Alvim. “O volume de chuvas só deve voltar à média na primavera, mas isso não se traduz, necessariamente, na recuperação dos níveis dos mananciais”, salientou.
De acordo com Alvim, além da estiagem, outro fenômeno que preocupa é o chamado empacotamento das chuvas, quando há muita precipitação em um pequeno intervalo de tempo. “Temos observado que as chuvas se concentram em um ou dois dias do mês. Com esse comportamento, não é possível recompor os níveis dos lençóis freáticos e as vazões dos rios e reservatórios, comprometendo a disponibilidade de água para abastecimento”, disse.
ENERGIA
A vazão de alguns reservatórios das usinas operadas pela Copel é a menor dos últimos 40 anos, principalmente as localizadas na Bacia do Rio Iguaçu. A Usina Governador Bento Munhoz da Rocha Netto (Foz do Areia) está com 16% da capacidade de armazenamento total. Na Usina de Salto Santiago, o volume do reservatório está com 9% da capacidade.
O fornecimento de energia só não foi impactado porque o sistema elétrico nacional é integrado, e o Paraná recebe energia elétrica de outras regiões do País, por meio do Operador Nacional do Sistema (ONS). “A disponibilidade de energia nas regiões norte e nordeste possibilita suprir a demanda da Região Sul. Na segunda-feira, dia 25, cerca de 60% da carga do sul foi suprida pelo sistema”, explicou Ricardo Rodrigues.
Mesmo assim, os reservatórios das hidrelétricas da Copel também estão dando suporte no abastecimento, com o direcionamento da água armazenada a represas que são utilizadas pela Sanepar. “A Copel tem procurado a administrar a geração de energia para também contribuir com a captação de água”, disse.
OUTRAS MEDIDAS
Além das medidas adotadas pela Sanepar para garantir o abastecimento, outros órgãos do Estado atuam no enfrentamento à estiagem. O Instituto Água e Terra (IAT), responsável pela gestão dos recursos hídricos e ambientais do Estado, está acompanhando as ações emergenciais para suprir o fornecimento.
O IAT também entregou caminhões-pipa a 20 municipais paranaenses para serem utilizados no abastecimento de água, combate a incêndios e, principalmente, para higienização de calçadas e ruas próximas a hospitais.