Pesquisa vergonhosa politiza a pandemia apontando “culpados” pelas mortes

Pesquisa vergonhosa politiza a pandemia apontando “culpados” pelas mortes

por Vanessa Martins de Souza

A revista Veja acaba de publicar um levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas que aponta 35,1% dos entrevistados acusando o Presidente Jair Bolsonaro como o maior responsável pelas mortes por Covid-19. Em segundo lugar, aparecem os governadores, lembrados por 12,7% dos entrevistados. O STF, para 5,6% e o Congresso, para 3,2%. A China está bem abaixo, sendo apontada como culpada por apenas 4% dos entrevistados. A pesquisa foi feita com 2.258 brasileiros.

Ações coordenadas

Independentemente da metodologia utilizada pelo instituto, se seria confiável ou não, é possível questionar severamente as interpretações da pandemia a partir desses dados. Quer dizer que cerca de 35% dos entrevistados culpam o presidente da República pelas mortes, como se Bolsonaro fosse o maior responsável por um problema desse nível de complexidade? Francamente… Isso é passar de todos os limites do aceitável diante de uma situação gravíssima que já acarreta mais de 20 mil mortes pelo país e que depende de ações articuladas, muito bem coordenadas, entre o presidente da República e governadores, prefeitos, Ministério da Saúde, secretarias de saúde estaduais e municipais, de médicos, enfermeiros, direções de hospitais, da medicina, da ciência, de empresários, comerciantes e da própria população formada por quase 210 milhões de brasileiros.

Decisões estaduais e municipais

Notoriamente, o Presidente Bolsonaro tem dito muitas bobagens sobre a pandemia, feito comentários sinistros sobre as mortes. Porém, o que ele tem feito, de fato, de concreto, para causar tantas mortes? Para além do que tem dito de equivocado, em termos de atitude, mesmo, não tem impedido nenhum governador ou prefeito de tomar as decisões locais mais convenientes. Cada governador, cada prefeito, tem tido liberdade para decretar o que bem quiser, entre lockdowns, ou não, recomendações, orientações e proibições, inclusive, com o uso da força policial em determinados estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, para inibir quem “furasse” as medidas de isolamento social. Em resumo, se Bolsonaro tem falhado em determinadas questões, como a escolha de dois ministros da Saúde que deixaram muito a desejar, por outro lado, não tem atrapalhado em nada as determinações de governadores e prefeitos. E o que conta, mesmo, em uma pandemia, são as decisões tomadas nos estados, nas cidades. São nas cidades que as pessoas moram. Não é em Brasília, no Congresso, nos palácios dos governantes, onde as pessoas vivem, são infectadas, ficam doentes e são tratadas.

Politização abjeta

Lamentavelmente, a politização da Covid-19 chegou ao ponto de baixaria, ao encomendar uma pesquisa com o intuito de politizar as mortes, tentando buscar-se entre a população “opiniões” sobre os “culpados” por tantos mortos. Querem que essa conta política seja paga por uma única pessoa, nesse caso, o Bolsonaro, o “Judas” da vez a ser malhado em praça pública.

“Covidão”

Curiosamente, poucas dessas pessoas entrevistadas lembraram das denúncias de superfaturamento na compra de respiradores por governos estaduais, como o do Rio de Janeiro e do Amazonas. É espantoso como quase ninguém lembra da postura do STF que quer barrar a orientação do Ministério da Saúde sobre o uso do protocolo da hidroxicloroquina na fase inicial da doença. Aliás, alega-se que Bolsonaro não é médico para “receitar” medicamentos. Ora, aos críticos não lhes parece razoável entender que o Ministério não prescreve medicação alguma, apenas, orienta? Se Bolsonaro não é médico, o governador de São Paulo também não é para determinar que no “seu” estado os médicos não seguirão as orientações do Ministério da Saúde, conforme declarou durante a semana. O governo de São Paulo, estado com o maior índice absoluto em mortes, quer dar “aula” de medicina? Dória deveria baixar a bola, pois, se pensa que tem alguma chance de vencer a corrida à Presidência da República, em 2022, que saiba que a politização da pandemia lhe acarretará um efeito rebote. Se, hoje, quer jogar tudo na conta de Bolsonaro, terá de suportar a “culpa” que lhe será lançada pelas mortes em seu estado, também. Pois, há grandes diferenças regionais entre as curvas de contágio em cada localidade, caindo na conta de governadores e prefeitos, também, muito em breve. As mortes no estado de São Paulo serão lembradas repetidamente durante a campanha presidencial em 2022, se realmente for candidato, conforme não esconde de ninguém essa intenção.

Conscientização do povo

E o que dizer da própria população? Não há governante que consiga deter um povo insubordinado, indisciplinado, inconsciente e irresponsável. É cultural. Bolsonaro tem sua parcela de responsabilidade ao minimizar a gravidade da doença, ao ter se referido a “gripezinha”, incentivado o povo a voltar à normalidade, é inegável. Porém, o percentual de seguidores irrestritos do “mito” é pequeno (talvez, uns 20 a 30% do eleitorado), para se poder afirmar que houve um peso significativo. O mais provável é o fator cultural do brasileiro, em geral, muito pouco afeito a disciplina, pouco consciente de sua responsabilidade para conter o avanço do contágio. Uma coisa é precisar sair para trabalhar, comprar itens essenciais em supermercados, farmácias e outras atividades indispensáveis, a exemplo de solicitar serviços bancários e em lotéricas. Outra coisa bem diferente é continuar levando uma vida social normal, reunindo-se em festinhas, encontros familiares e rodas de amigos, praias, parques, praças, e até em festivais de pipa, bailes funks e festas rave. O povo cava sua própria cova e, depois, culpa os políticos, unicamente. Mais responsabilidade de todos é crucial. Em muitos municípios, ainda se observa pessoas andando livremente sem máscaras nas ruas, em aglomerações. Impossível fiscalizar a todos e puni-los adequadamente. Nem em países de “primeiro mundo” seria possível exercer controle absoluto sobre a totalidade da população. A única saída é a conscientização do povo. Trabalho demorado, de efeitos graduais, a um povo que duvida da ciência e aposta mais na fé, na sorte e nas fake news. Se tivéssemos outro nível educacional, poderia ser muito diferente.

Fé e razão

A fé e esperança são importantes, muito essenciais para manter o equilíbrio emocional, a força para enfrentar os problemas e prosseguir no dia-a-dia. Contudo, é preciso fazermos a nossa parte para que Deus nos ajude e proteja, afinal, temos livre arbítrio para optar sair sem máscaras ou não, evitar aglomerações ou não. Essa “fé” de tantos brasileiros é muito questionável. A fé de que nada de ruim vai acontecer, de que não se vai pegar o vírus, de que não se vai passar a familiares e pessoas queridas, não pode estar desvinculada da razão e da realidade. O Criador nos deu capacidade de raciocínio, assim como fornece “ferramentas” como a ciência, a medicina, os médicos, os enfermeiros, os medicamentos, a tecnologia aplicada à medicina, mas, o comportamento do povo e de tantos políticos põe tudo a perder.

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