Politização da pandemia tem atrapalhado prevenção ao contágio e retomada da economia

Politização da pandemia tem atrapalhado prevenção ao contágio e retomada da economia

por Vanessa Martins de Souza

Tem ocorrido uma discussão infindável nas redes sociais entre internautas que defendem o isolamento horizontal (todos em casa, à exceção dos trabalhadores de serviços essenciais) e os que defendem o isolamento vertical (isolar socialmente apenas pessoas dos grupos de risco). O debate já foi politizado desde o início da pandemia no país, onde classifica-se, por equívoco, os defensores do isolamento horizontal como necessariamente anti-bolsonaristas e os do isolamento vertical como bolsonaristas. Tudo por que o Presidente Jair Bolsonaro tem revelado uma postura contra o isolamento horizontal, inclusive, incentivando o povo a sair às ruas normalmente, a voltar ao trabalho, à atividade comercial plena.

Antagonismo equivocado

O próprio Presidente da República, aliás, tem sido visto saindo em meio ao povo em alguns episódios em que visitou o comércio sem máscara, cumprimentando e tocando populares, como se não estivesse preocupado com a pandemia. Bem como compareceu à manifestação popular de seus apoiadores no domingo em Brasília. Ou seja, seus apoiadores encontram grande incentivo para não aderir ao “#fiqueemcasa” quando veem que o próprio chefe do Poder Executivo sai livremente pelas ruas, sem máscara e sem cuidados preventivos ao contágio pelo vírus que causa a Covid-19. Lamentavelmente, a prevenção ao contágio foi politizada a partir dessa postura do Presidente da República, gerando um antagonismo entre defender a retomada da atividade econômica e a prevenção ao contágio. Como se as duas coisas não pudessem ser feitas ao mesmo tempo. Como bem falou o Ministro da Saúde, Nelson Teich, economia e saúde pública devem andar de mãos dadas, e não devem ser vistas como antagônicas.

Isolamento e retomada da economia

Acredito que o equilíbrio em uma situação tão complexa como a de uma pandemia é essencial. Saber bem dosar o isolamento horizontal em conformidade com a expansão da curva de contágio parece ser a melhor saída. O Ministro Teich tem sinalizado nesse sentido, enfatizando que cada município, estado e região do país deve adotar medidas diferenciadas, específicas, em conformidade com a evolução da curva de contágio e das condições de atendimento pelo SUS local. Foi bastante pontual e racional o posicionamento do ministro, uma vez que o país é imenso, apresentando diferenças regionais muito grandes. No Paraná, o controle da pandemia tem apresentado bons resultados, enquanto em outros estados como Amazonas, Pará, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Maranhão, o cenário é de caos no sistema de Saúde. Cabe ao ministro da Saúde, em parceria com secretarias estaduais e municipais de saúde, avaliar a realidade de cada localidade e ir ajustando as medidas de reabertura do comércio e das atividades profissionais, como prestação de serviços, além da indústria e outros setores, conforme a realidade vai se revelando favorável ou desfavorável ao retorno gradual da normalidade.

Polarização acirrada

O que não deve acontecer é a radicalização de posturas e opiniões, polarizando-se mais essa questão no debate público nacional. Como se os que defendem a abertura geral do comércio estivessem pouco se importando pelas vidas perdidas para a Covid-19, e os que defendem o isolamento horizontal estivessem pouco se importando com a economia, o desemprego, as falências, o aumento da pobreza, da miséria e da fome. Essa polarização tem gerado um clima bastante pesado, de animosidade, de disputa nas redes sociais, com um lado tachando o outro de “egoísta” e “hipócrita” e vice-versa.
Talvez, haja pessoas em cada lado da polaridade que estejam se revelando egoístas, mesmo, por não conseguirem obter uma perspectiva do todo, considerando apenas verdades parciais, e deixando de buscar uma solução a contento, visando minimizar os prejuízos. O brasileiro, talvez, necessite aprender que pensar no bem da coletividade não é uma abstração, mas um forma de entendimento que traz benefícios a todos. Deixar de ser imediatista e de olhar apenas para seu próprio umbigo é um grande passo. É muito fácil aderir e defender o “#fiqueemcasa” quando se pode trabalhar em home office, quando se pode contar com economias financeiras, aposentadoria ou pensão. Por outro lado, também é compreensível que os que não tenham compreendido a real gravidade da Covid-19 – que tem matado até jovens sem comorbidades, inclusive – queiram se expor deliberadamente ao risco de contágio, voltando a viver uma vida normal sem cuidados como o uso de máscara e adotando saídas de casa apenas para fazer o essencial.

“Negacionismo” da Covid-19

O problema mais grave da politização da pandemia é verificar pessoas aderindo ao ‘negacionismo’ do vírus e da doença. Fake news até com supostos caixões vazios no Amazonas foram disseminadas nas redes sociais para “provar” que as mortes por Covid-19 na proporção que a imprensa divulga seriam mentirosas. A autora dessa fake news já foi identificada pela polícia e poderá pegar prisão de até nove anos. Muito se comenta de supernotificação de óbitos, também. Que determinados governadores oposicionistas ao governo Bolsonaro estariam obrigando profissionais de saúde a assinar “Covid-19” como causa da morte quando se trata de óbitos por outras doenças. Tudo para inflar o número de mortes e justificar a roubalheira de dinheiro público na compra de respiradores, na instalação de hospitais de campanha e outros gastos. Contudo, não há provas, sequer indícios, de supernotificação de óbitos por Covid-19, independentemente das denúncias de corrupção de alguns governadores que já começam a ser investigadas. O que há são apenas boatos e relatos pouco consistentes circulando pelas redes sociais.

Perigo das fake news

Infelizmente, as fake news têm atrapalhado muito a prevenção ao contágio, uma vez que há pessoas que acreditam cegamente em boatos e especulações na internet sem aprofundarem-se no assunto, deixando de buscar informações confiáveis em diversas fontes. O próprio bom senso, aliás, ajudaria muito a discernir o que é falso do que é verdadeiro. Como resultado, verificamos ainda muitas pessoas negligenciando os cuidados para evitar o contágio, saindo sem máscaras, reunindo-se em aglomerações desnecessárias, e alguns até vivendo como se nada de grave estivesse acontecendo, promovendo churrascadas, festas, reuniões de amigos e familiares, visitas sociais e outras atitudes que, no atual momento, revelam-se vergonhosas. Este é um momento em que todos deveriam se unir para vencer essa guerra contra o vírus e, na sequência, vencer as duras consequências à economia que recairão sobre absolutamente todos, sejam ricos, pobres ou de classe média. Menos politização e mais ciência e razão fariam um bem enorme a todos, à saúde pública e à economia.

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