por Darci Piana
Neste início de abril de 2020, o mundo vê-se exposto à intensidade de uma crise mundial de saúde gerada pela Covid-19 e que está se refletindo sob diversas formas no sistema de produção e de demanda de bens e serviços no Brasil. Assim, todos os parâmetros anteriores de desempenho e perspectivas econômicas brasileiras são sobrestadas e perdem a validade neste novo cenário de efeitos nocivos internos decorrentes da pandemia. As referências anteriores devem ser reconsideradas frente à nova realidade e as decorrentes alterações, que se refletem no cenário econômico com quedas significativas de diversos indicadores macro para o país. A nova conjuntura traz a ocorrência de contenções até então imprevistas nos indicadores econômicos, em um cenário em que a pandemia vem se ampliando, até que se possa descobrir, pela ciência, as vacinas indicadas.
Entre os efeitos perversos da crise: queda do PIB nacional para valores inferiores às expectativas anteriores, com projeções atuais indicando redução do previsto em 2,4% para 0,0%; reduções significativas de novos empregos e ampliação do desemprego e da desocupação, vinculados aos efeitos multiplicadores restritivos na economia; limitações nas exportações brasileiras por conta da retração mundial; queda nas vendas do varejo; redução do desempenho da indústria de transformação; queda na entrada de capital externo, já que a crise deverá gerar restrições na oferta externa de dólares; intensificação do déficit das contas do setor público brasileiro, vinculada aos gastos extras para custeio de despesas de população necessitada e financiamentos aos empresários.
Entre os indicadores econômicos brasileiros que demonstravam bom desempenho antes da paralisação, podem ser mencionados: inflação nos últimos 12 meses abaixo de 4,5%; taxa de juros SELIC, do Banco Central, reduzida para 3,75%; bom estoque de divisas e reservas cambiais no Banco Central, superior a US$ 350 bilhões. Juntam-se a eles, uma safra agrícola que deverá superar a do ano anterior, com o Paraná tendo participação crescente. Em contrapartida, a inflação poderá aumentar, especialmente se houver crescimento da dívida pública, expansão do déficit nas contas governamentais e emissão de meios de pagamentos pelo Banco Central.
Com essas variáveis, materializa-se uma possível lentidão na recuperação da economia, desaquecendo o Consumo das Famílias, ramo da demanda agregada que até 2019 possuía maior participação na expansão da demanda final interna. Os efeitos restritivos do coronavírus tendem a serem mais prejudiciais nos ramos do comércio, serviços em geral e na indústria de transformação. No agronegócio, os impactos serão menores. Deverão ocorrer também restrições ao Investimento Governamental, devido aos novos e urgentes gastos a serem assumidos pelo setor público no enfrentamento da crise.
Uma incógnita no atual cenário é o surgimento de uma crise tripla na esteira do vírus: a) crise médica, ou seja, a epidemia propriamente dita e seus efeitos; b) crise econômica, resultante das limitações restritivas do isolamento e bloqueios sobre o sistema econômico; c) crise relacionada ao rompimento de hábitos, costumes e padrões até agora predominantes e suas consequências derivadas das transformações na sociedade.
É extremamente importante a busca de formas alternativas e inovadoras dos fatores de produção conhecidos: recursos naturais, trabalho, capital e tecnologia – esta última por conta das inovações que trazem estreita relação com o desenvolvimento econômico. Será necessário priorizá-lo, por permitir o atendimento crescente das necessidades humanas, em decorrência do aprimoramento no sistema produtivo e das inovações tecnológicas.
O avanço da ciência, sintetizado pela inovação e pela criatividade, desempenha papel estratégico no processo, e será por meio dela que nós, brasileiros, iremos superar o dramático momento que estamos vivendo.
Darci Piana, Presidente do Sistema Fecomercio Sesc Senac Paraná