por Maristela R. S. Gripp
Fazendo uma comparação com minha cidade-natal, aqui onde moro os dias de sol são raros. Por isso, quando ele aparece, as pessoas correm para os parques. Nesses dias aproveito para caminhar com calma e ver as crianças brincando e aproveitando os dias iluminados.
Foi justamente em um desses dias que acompanhei a conversa entre uma mãe e seu filho, com cerca de 10 anos de idade, na pista de caminhada. A cena familiar seria mais uma entre tantas naquela manhã de sol, mas o que me assustou foi a maneira como a mãe se dirigia ao menino.
Enquanto andavam, a mãe falava alto as seguintes palavras: “Você é muito idiota mesmo! Um burro! Um chato!”. Não sei há quanto tempo aquela conversa vinha se desenrolando, nem os motivos, só sei que quando eles passaram por mim, o menino explodiu: “Chata é você, sua burra e feia!”. No mesmo instante, os dois se calaram e seguiram mudos.
Continuei minha caminhada, mas fiquei me perguntando o que leva uma mãe ou um pai a tratar assim um filho? E mais, o que faz uma mãe ou pai ouvir esse tipo de coisa e não responder? Você pode até achar que é um pouco de exagero da minha parte. Afinal, existem xingamentos muito piores!
Tenho a impressão de que os filhos vêm ao mundo para testar os nossos limites e a nossa paciência. Educá-los exige de nós uma constância férrea, mas, principalmente, coerência naquilo que fazemos e dizemos. As crianças passam por várias etapas até que possamos considerá-las aptas para o convívio social. Nesse sentido, a família serve de laboratório para os primeiros passos na construção desse ser humano que teremos que entregar ao mundo – sem direito à devolução.
Mas educar exige, antes de tudo, muito amor. Nos choca saber que um pai ou uma mãe foi capaz de atirar o filho pela janela de um apartamento, por exemplo. A violência física parece estilhaçar qualquer resquício de humanidade numa relação que deveria ser pautada pelo amor incondicional.
Entretanto, existe um tipo de violência para a qual nem sempre nos atentamos: a violência verbal. Aquilo que dizemos para as crianças é capaz de destruir aos poucos o seu amor próprio e a confiança nos adultos. A linguagem tem esse poder.
De acordo com a filósofa e educadora Tania Zagury, a criança aprende o que vivencia. Por isso, a criança que passa a vida sendo humilhada verbalmente, aprende a desqualificar os outros e a si mesma. As palavras são carregadas de significados e podem marcar positiva ou negativamente a vida dos nossos filhos.
Quando uma mãe ou um pai trata seus filhos com palavras depreciativas como “idiota”, “feio”, “sujo”, “burro”, “gordo”, “palito”, “chato” ou pior, com palavrões, está passando uma mensagem clara que é assim que se deve tratar as pessoas. Se é isso que você faz com o seu filho ou filha, não adianta ter uma conversa de horas dizendo o contrário. Para as crianças, vale a máxima: “Faça o que eu faço, não o que eu digo”.
Use as “palavras do bem” para valorizar e motivar seus filhos. Valorize o que foi bem feito, comemore o que deu certo, converse com ele sobre aquilo que não deu certo e que precisa ser melhorado. Trate-o com respeito e mostre a ele que todas as pessoas devem ser tratadas assim. Seja o exemplo! Substitua o “burro!” por “Filho, o que você não entendeu?”, “Como posso te ajudar?” ou “Vamos fazer juntos uma vez pra ver se dá certo?”
A educação dos nossos filhos não precisa ser um campo de batalha, um cabo de guerra. Não existem “inimigos” no ambiente familiar, mas, sim, pessoas que se amam, se respeitam e que devem desejar o melhor umas para as outras. Depende de nós, pais, darmos o primeiro passo nessa direção.
Maristela R. S. Gripp
Professora do Curso de Letras do Centro Universitário Internacional Uninter e pós-graduada em Psicopedagogia.