Muitos, entretanto, têm casa. São os chamados semi-domiciliados, animais que por falta de cuidado perambulam pelas ruas da cidade
Milhares de cães vagam diariamente pelas ruas de Pinhais em busca de alimento e abrigo. Abandonados à própria sorte, muitos padecem de doenças infecciosas e são vítimas de maus-tratos. São cerca de 20 mil animais perambulando pelo município segundo a Organização Não Governamental (Ong) Patinhas Pinhais. “Chegamos a essa estimativa cruzando dados da Organização Mundial da Saúde, de um estudo da Universidade Federal do Paraná e de dados da Prefeitura”, diz Tânia Ferreira, uma das diretoras da Ong. No entanto, segundo Tânia, muitos desses cães possuem um lar, mas não recebem os cuidados necessários. “Diversos são semi-domiciliados, ou seja, têm donos, porém não são alimentados, castrados ou vacinados, assim, passam a maior parte do tempo nas ruas”, destaca a diretoa
Ponto de “desova”
De acordo com Jaqueline Lourenço Gomes, também diretora da Ong, Pinhais é considerado um ponto de “desova” de cães (local de abandono). “Regiões como a da Estrada Ecológica costumam registrar grande número de abandono, um problema que tem crescido nos últimos anos. Isso traz muitas consequências, como a superpopulação de cachorros nas ruas da cidade e o surgimento da figura do acumulador de animais, pessoas, algumas delas, que recolhem os cães e os confinam em residências no meio urbano, muitas vezes sem condições mínimas para alimentação e limpeza necessária”, ressalta Jaqueline.
Educação e políticas públicas
Para a Ong Patinhas Pinhais, muitas vezes, as causas dos abandonos são a falta de educação e consciência, por parte da população, e de políticas públicas suficientes. “A população não foi educada para a guarda responsável, castração, vacinação e outros cuidados, mantendo os animais sob sua proteção de acordo com a conveniência. E, para esses casos, não há qualquer restrição ou punição ao abandono, por isso continuam praticando maus tratos dentro de lares em situação de vulnerabilidade, sem qualquer tipo de intervenção por parte do poder público”, declara Jaqueline. Ainda segundo a diretora, o convênio da Prefeitura com clínica veterinária para castração dos animais não é suficiente.
Violência contra animais
Ano passado, segundo a protetora de animais Patrícia Almeida Satyro, Pinhais presenciou um caso emblemático envolvendo um médico e uma cadela abandonada na Estrada Ecológica. “No dia 30 de outubro de 2017 o médico pediatra do hospital Angelina Caron, identificado apenas como Marcelo, foi autuado pelo crime de maus-tratos e porte ilegal de arma, após atirar em uma cadela, que não resistiu aos ferimentos. Marcelo também ameaçou voltar ao local para matar o restante dos cães”, afirmou Patrícia.
Hostilidade às protetoras
O caso envolvendo o médico é extremo, mas foram verificadas diversas outras agressões no município, nos últimos meses. Regina Rios é protetora de animais há vários anos no bairro Emiliano Perneta. Os cuidados vão desde alimentação até vacinação e castração. Além dos doze cães que tem em casa, Regina também cuida de quatro abandonados que vivem no Perneta. Segundo ela, nos últimos meses, os animais começaram a sofrer investidas de moradores na tentativa de afugentá-los da região. “Cuido destes quatro cães há mais de um ano. Eles ficavam em uma casinha no bairro, no entanto, começaram a ficar territorialistas, a avançar sobre algumas pessoas, aí a casinha foi mudada de lugar. Há algumas semanas as telhas das casinhas foram arrancadas, depois disso não os vi mais”, relata a protetora. Segundo ela, alguns moradores foram hostis em uma de suas recentes visitas. “Fui lá para ver os cães, ao perceber que não estavam mais no local perguntei aos vizinhos sobre eles e foram extremamente grosseiros comigo”, frisou.
Jaqueline Lourenço ressalta que qualquer coação a quem alimenta ou mantém casinha na rua pode ser interpretada como constrangimento ilegal, havendo inclusive jurisprudência para tal. “Esses são aspectos técnicos, no âmbito prático sabemos que muitas das pessoas que implicam com as casinhas nas calçadas são as mesmas que não castram seus cães e permitem que saiam nas ruas e cruzem, ou ainda, desovam filhotes em caixas pelas esquinas. Não há lares para todos os animais abandonados, e os cães comunitários são solução humanitária para que esses animais possam viver com alguma dignidade”.
Nota da Prefeitura de Pinhais
Para saber o que vem sendo feito para minimizar o problema relatado pela Ong, a reportagem do jornal A Gazeta Cidade de Pinhais conversou com a Prefeitura.
Trabalho de conscientização é constante
Segundo a Prefeitura de Pinhais, todo o trabalho da Seção de Defesa e Proteção Animal já envolve uma política pública de controle populacional, campanhas de guarda responsável e fiscalização de denúncias de maus-tratos contra animais. “As fiscalizações realizadas se baseiam na Lei Municipal 1356/2012 e também na legislação federal de crimes ambientais, 9.605/1998 art 32. O foco de todo esse trabalho é a conscientização da população para evitar/inibir os maus tratos e o abandono de animais”, destaca a Administração Municipal.
Cão comunitário
Sobre a violência sofrida por cães abandonados, a Prefeitura de Pinhais destaca que a orientação é de que se o cão não está sendo bem aceito no local, o ideal é que seja doado, para evitar que seja uma vítima de crueldade. Para ser classificado como um cão comunitário, destaca a Prefeitura, existem algumas regras, como o animal ser aceito na vizinhança, estar há pelo menos 1 ano no local e também ter no mínimo 2 mantenedores. Nesses casos, os mantenedores fazem um cadastro na Secretaria de Meio Ambiente e se responsabilizam pela manutenção básica do cão. Em contrapartida a Prefeitura oferece castração, microchipagem, vacinação e atendimento veterinário ao animal, quando necessário.