por Eduardo Cambi
É necessário reagir contra a causa de todas as desigualdades, que é a ausência de uma educação de qualidade. Sem educação não há igualdade, nem democracia. Tampouco é possível combater a corrupção, compreendida seja na escolha de políticos mais honestos para governar, seja na construção – a longo prazo – de uma cultura individual pautada em princípios éticos.
O comportamento dos eleitores e dos cidadãos, de modo geral, pode contribuir significativamente para o ciclo da corrupção. Quando se troca o voto pelo recebimento de favores pessoais, a política democrática deixa de ser o caminho para atender os interesses comuns da sociedade. Ela passa a servir para a satisfação de objetivos individuais, sem grandes preocupações com o conjunto da sociedade ou com o seu futuro. Isso impede a criação das bases sociais indispensáveis para promover as reformas que o Brasil precisa para o seu desenvolvimento humano, político, ético e social.
Não basta reprimir a corrupção; é preciso educar para o exercício da cidadania. Construir, pela educação, cidadãos responsáveis por condutas éticas e sociais é condição essencial para promover os valores positivos, tornar as pessoas menos egoístas, mais integradas e participantes do processo político-democrático; enfim, verdadeiras coautoras da construção de um país melhor e mais justo para todos.
Sem educação para o exercício da cidadania o futuro do Brasil continuará condenado pela corrupção. É pela falta de conhecimento ou de exercício efetivo dos deveres e dos direitos fundamentais que a apatia se generaliza, a democracia é enfraquecida, os controles sociais ficam diluídos e o modelo social brasileiro se mantém caracterizado pelo patrimonialismo, pelo individualismo, pela desigualdade e pela injustiça.
A escola pode não apenas reproduzir a ordem social vigente (marcada pelo individualismo, pelo consumismo, pela separação de classes sociais e pela apatia do cidadão), mas deve, principalmente, contribuir para melhorar a sociedade, orientando a transição ética e axiológica entre o passado e o futuro.
Por isso, é necessário repensar o papel da escola na formação do cidadão. Educar para o exercício da cidadania inclui a aproximação da teoria com a prática. As escolas precisam ser espaços democráticos, para poderem discutir as questões de interesse coletivo e agirem para melhorar a sociedade. Para adquirir um comportamento cívico ativo, os alunos têm de desenvolver competências (conhecimentos, habilidades e atitudes), que os capacite à participação na vida pública. A vivência da democracia deve começar na própria escola, a partir da escolha de representantes de turma, do incentivo à formação de grêmios estudantis e de diretórios acadêmicos, da participação direta em conselhos escolares ou na eleição dos órgãos de direção. A escola também deve ajudar os alunos a experimentar comportamentos cívicos responsáveis nas atividades extraescolares, com o envolvimento de professores, de educadores, de familiares e da comunidade.
Formar cidadãos, contudo, vai além do ensino do conjunto de valores inerentes a uma comunidade democrática. O processo de aprendizagem deve estar fundado na participação ativa – pelo diálogo, o debate, o exercício da liberdade de discordar e a tomada de decisões em conjunto – para que a resolução dos problemas da vida em comunidade possa contribuir para a criação de hábitos e virtudes cívicas. Os ideais democráticos devem ser postos em prática para que os valores éticos se fixem na base cultural da sociedade.
Entretanto, educação para a cidadania, voltada para a promoção da democracia e da coesão social, não termina na escola. Também deve envolver os meios de comunicação de massa, a educação familiar, o setor produtivo e os órgãos públicos. Isso porque a cidadania plena e ativa depende da capacidade de apreender durante toda a vida, para ter atitudes voltadas à concretização permanente dos valores éticos.
Eduardo Cambi
Promotor de Justiça do Ministério Público do Paraná, coordenador do Projeto Geração Atitude e coordenador do Projeto Paraná Sem Corrupção.