De janeiro a 12 de junho, 250 mulheres foram atendidas pelo serviço de autonomia econômica na Casa da Mulher Brasileira (CMB), em Curitiba. O atendimento é realizado pela Fundação de Ação Social (FAS), em parceria com a CMB – sob a coordenação de Sandra Praddo – e tem como objetivo encaminhar mulheres vítimas de violência para o mercado de trabalho.
Cristiane Pereira, supervisora de projetos do Ministério do Trabalho, é responsável por fazer o atendimento dentro da Casa. Ela explica que 90% dos casos que chegam até ela são de mulheres vítimas de violência física. Normalmente elas são encaminhadas para o serviço de autonomia econômica porque o agressor as impedia de trabalhar.
Também há situações mais extremas em que o companheiro chegou a destruir a carteira de trabalho da vítima – Cristiane já encaminhou nove casos como esse para expedição de segunda via – ou a mantinha em cárcere privado.
Por isso, antes de ser resolvida essa questão do emprego, ela passa pela recepção, atendimento psicossocial e são feitos todos os procedimentos legais para garantir sua proteção – desde medidas protetivas até encarceramento do agressor. “É feita uma pré-avaliação para ver o estado emocional e psicológico delas”, diz Cristiane.
A situação dessas mulheres é delicada. Algumas chegam a ficar dez anos afastadas do mercado de trabalho e, nas palavras de Cristiane, “de repente o chão desaba e elas têm que ser o pilar da casa”.
Por isso, a maior parte dos encaminhamentos são para vagas em nível de Ensino Médio – como auxiliar de produção e assistente de cozinha. Mesmo quem possui qualificação sofre com a distância em relação ao mercado de trabalho. O tempo de inatividade cria um descompasso. “A formação que elas tiveram dez anos atrás às vezes não serve mais”, explica.
Acompanhamento e persistência
Cristiane faz todo o procedimento de entrar em contato com as empresas e agendar entrevistas. Alguns cuidados especiais também são tomados. Há uma preferência em não encaminhar a candidata para vagas noturnas e lugares próximos de onde o agressor vive ou trabalha. As entrevistas também são realizadas preferencialmente por mulheres.
É feito o monitoramento da candidata durante todo o processo. “Pelo sistema eu consigo ver se ela compareceu na entrevista, se foi contratada, se continua trabalhando, se perdeu a vaga”, diz Cristiane.
A coordenadora também afirma que o retorno das empresas tem sido positivo. Hoje há um entendimento melhor do trabalho que ela realiza na CMB, as empresas estão acolhendo melhor, o que dá mais segurança à candidata.
Mas o encaminhamento é mais complicado do que parece. Das 250 mulheres atendidas desde janeiro, apenas nove conseguiram ser contratadas e se manter no trabalho. “É um processo longo até que elas tenham estabilidade emocional”, comenta. “Mas o importante é ter persistência”.
Mesmo que não dê certo de primeira, algo comum devido à gravidade das situações que chegam até a CMB, só o fato da mulher voltar várias vezes para tentar outros encaminhamentos já é um processo de reconquista de autoestima e confiança.
“Elas chegam aqui destruídas e, mesmo não sendo contratadas de primeira, vão ganhando mais confiança só por passar por esse atendimento, por conversar”, afirma. “Ver a confiança que elas tem em nós, no trabalho que a Prefeitura oferece para elas, é muito gratificante.”
Reconstrução
“Eu cheguei [na CMB] com a kombi da Prefeitura, eu tive que sair de casa às pressas com a minha filha”, relembra Teresa. Ela foi uma das mulheres vítimas de violência atendidas pelo serviço de autonomia econômica da Casa da Mulher Brasileira.
Teresa e a filha, que já conheciam os serviços da Casa, chegaram no local às 2 horas da manhã. Os funcionários acolheram as duas e no dia seguinte foi feito o atendimento psicossocial. Em seguida foi encaminhada para a autonomia econômica. “Eu fui muito bem acolhida, me receberam bem”, diz.
Quando foi atendida pela Cristiane, já faziam seis meses que estava afastada do mercado de trabalho. Hoje, depois de dois meses e várias tentativas, ela trabalha com serviços de limpeza. “[A Cristiane] É um amor de pessoa, ela estava sempre me ligando, procurando vaga, ela me deu toda a atenção”, conta.
Segundo Teresa, esse atendimento oferecido pela CMB foi essencial para que ela se reerguer: “Para mim foi muito importante, foi uma benção mesmo”. Para Lara o processo acabou sendo mais rápido.
Ela tinha sido agredida por seu marido e quando procurou a Casa viu que existia esse encaminhamento. Lara, que é formada em Administração, estava desempregada e também diz ter sido muito bem atendida pela Cristiane. “Ela achou a vaga e incentivou bastante a empresa por telefone, disse que tinha achado a pessoa perfeita para eles”, comenta.
Em menos de dez dias ela fez entrevista e conseguiu a vaga de assistente administrativa. Assim como Teresa, ela também ressalta a importância que esse processo teve para ela. “Eu estava separada, sem perspectiva de vida, tive que sair da minha casa e deixar todas as minhas coisas lá”, diz. “Esse atendimento foi fundamental”.