João Aloysio e Vanessa Martins de Souza
Depois de trinta anos filiado ao PT, o ex-Prefeito de Pinhais, Luizão Goulart, anunciou a desfiliação do partido, no sábado (04/02), durante reunião do Diretório Municipal. O motivo da saída é buscar melhores oportunidades para uma futura candidatura a Deputado Federal, em 2018, uma vez que alega não ter encontrado muitas possibilidades no Partido dos Trabalhadores (PT). Ainda analisando os inúmeros convites que tem recebido para filiação, o ex-prefeito afirma que tem o prazo até março de 2018 para escolher um partido que lhe ofereça boas condições de disputar o pleito.
A Gazeta Cidade de Pinhais: O senhor deixa o PT após trinta anos. Antes de revelar os motivos de sua desfiliação, gostaria que falasse sobre a sua entrada na política.
Luizão: Comecei a participar mais ativamente em 1985, por influência do grupo de jovens da igreja que frequentava. Era um tempo de forte movimento juvenil na política, e o pessoal mais antigo já participava de movimentos de associações de moradores e outros movimentos sociais. O PT era um partido novo, fundado em 1980, com grandes expectativas de renovação. Em 1984, houve o movimento pelas eleições diretas, estávamos comemorando o fim do regime militar. Enfim, uma época de muita efervescência política.
A Gazeta: Quando se filiou ao PT e começou a disputar as eleições?
Luizão: Me filiei em 1987. Um ano depois, em 1988, aos 26 anos, já lancei minha primeira candidatura. Foi a Prefeito de Piraquara. Eram nove candidatos e fiquei em 4º. lugar. Quem venceu a eleição foi o Luiz Cassiano. Em 1992, concorri, pela primeira vez, a vereador de Pinhais e perdi a eleição. Em 1993, fui eleito diretor de um colégio na Vila Amélia. Em 1996, fui eleito vereador de Pinhais, com 670 votos, junto com a Marli Paulino. Em 2002, fui eleito Presidente da Câmara de Pinhais para o biênio 2002/2003. No ano de 2002, também me candidatei a Deputado Estadual, tendo ficado com a 2ª suplência.
A Gazeta: Em que ano foi sua primeira eleição a prefeito de Pinhais?
Luizão: Foi em 2004, onde concorri com Marcos Ceschin, Luiz Cassiano, que buscava a reeleição, e o Romeu Massignani. Com a oposição dividida, quem venceu foi o Luiz Cassiano. Em 2006, me candidatei a Deputado Estadual, obtendo a 1ª; suplência. Terminei por assumir uma cadeira na Assembleia no lugar do então Deputado Estadual Ênio Verri, que foi chamado pela então Governador Roberto Requião para assumir a Secretaria de Estado de Planejamento. Fiquei pouco mais de um ano como Deputado Estadual.
A Gazeta: Conte um pouco das vitória nas eleições de 2008 e 2012
Luizão: Em 2008, junto com a Marli Paulino, fui eleito prefeito. Por sinal, vinte anos após a minha primeira eleição, disputando com o Marcos Ceschin, que tinha o apoio do Cassiano. Eu e a Marli fomos eleitos com 64% dos votos válidos. Já em 2012, fomos reeleitos, obtendo a maior votação do Brasil, quase 94% dos votos. Em suma, fui candidato pelo PT em nove eleições.
A Gazeta: O que mais o motivou sua filiação ao PT?
Luizão: Foi todo esse idealismo da época, essa vontade de mudar a sociedade para melhor. O Brasil passava por muitas mudanças. Foram vinte anos de regime militar, e a juventude estava muito ativa politicamente. Em 84, tivemos grandes comícios pelas Diretas Já e estávamos muito desejosos de mudanças na política.
A Gazeta: É de se supor que pela sua trajetória e liderança na Região Metropolitana, o seu nome deveria estar bem cotado no partido. Por que resolveu sair nesse momento?
Luizão: Por uma questão de estratégia, procuro um grupo político mais viável a minha candidatura. Todos sabem que tenho intenção de me candidatar a Deputado Federal. No PT, temos dois deputados federais fortes, bastante atuantes, trabalhando bastante: o Ênio Verri e o Zeca Dirceu. Há, ainda, a Senadora Gleisi Hoffmann, que deverá candidatar-se em 2018 a Deputada Federal. Então, busco um grupo em que haja mais chances de viabilizar minha candidatura. A nível estadual, dentro do PT, nunca tive muito espaço.
A Gazeta: O senhor diria que tem sido um pouco esquecido pela direção do partido a nível estadual?
Luizão: A questão é que não há muito espaço para mim porque existem outros nomes na fila, como prioridade do partido. Talvez, agora, com as dificuldades eleitorais do partido, as coisas pudessem mudar. Mas não vejo muitas possibilidades. Em oito anos como prefeito de um dos municípios mais importantes do estado, tendo sido o prefeito mais bem avaliado do Brasil e reeleito com quase 94% dos votos, mesmo assim, a direção estadual nunca me chamou para um encontro de peso. Há outras lideranças estaduais na minha frente. Assim, via poucas chances de viabilizar uma candidatura a Deputado Federal pelo PT.
A Gazeta: As denúncias de corrupção contra lideranças importantes do PT também pesaram nessa decisão de desfiliação?
Luizão: Não é o caso de dizer que não tenha divergências em relação a princípios, elas existem. Tenho até março de 2018 para escolher um partido. Quero um partido que não fuja dos meus princípios e ideologia. Sempre defendi uma posição mais de centro-esquerda e, de repente, não quero entrar num partido em que tenha que defender posições de direita, ideias que não acredito. Seria uma contradição muito grande. Conversarei com alguns partidos para tomar uma decisão.
A Gazeta: O senhor já havia decidido há algum tempo sair do PT ou essa decisão lhe ocorreu agora em 2017?
Luizão: Eu já vinha planejando sair do PT, mas queria terminar meu mandato como Prefeito. Porém, já tinha em mente que o próximo passo para viabilizar minha candidatura a deputado federal teria de ser a troca de partido.
A Gazeta: Sobre as denúncias contra membros importantes do PT, lideranças de peso, o que o senhor tem a dizer?
Luizão: Evidentemente, são posturas com as quais não podemos concordar. Não se pode apoiar certas práticas. Mas o PT foi muito massacrado pela mídia, de maneira geral. Vejamos, o PT esteve no poder federal durante doze anos, ia para dezesseis anos, se a Dilma não caísse. Isso ensejou muitas disputas, muita animosidade. Quando não se consegue discutir a política, parte-se para ataques pessoais. O Lula, como presidente, e a Dilma, no primeiro mandato, sempre priorizaram políticas para a maioria da população, os mais pobres.
A Gazeta: Mas a era Lula não teria sido beneficiada pela conjuntura favorável economicamente, a nível mundial, inclusive?
Luizão: Não se pode dizer que não foi mérito do Lula. As coisas não acontecem por acaso. Em relação a Pinhais, por exemplo, por que não foi feito antes o que dava para fazer? Essa justificativa é uma forma de se tirar o mérito das pessoas. Houve falhas, muitas falhas, nos governos do PT a nível federal, mas também houve muitos acertos e não podemos esquecer, jogando fora o que foi construído de bom.
A Gazeta: Como o senhor avalia o futuro do PT?
Luizão: Houve lideranças petistas muito penalizadas com as denúncias. Mas, também, estamos vendo outras lideranças de outros partidos sendo penalizadas. A corrupção não é problema de um partido somente. Em todos, ou quase todos os partidos, há nomes envolvidos em corrupção. Com o PT no Governo Federal, houve desenvolvimento, os pobres foram mais contemplados, isso é fato. Por outro lado, não se pode negar que o PT está desgastado. Mas se a Justiça demonstrar que está tratando sem distinção a todos os paridos no combate à corrupção, veremos que quase todas as siglas sairão desgastadas desse processo.
A Gazeta: O senhor conquistou, com essa longa trajetória de trinta anos, um considerável respeito dentro do PT. Inclusive, lembramos que o Lula e a Dilma já vieram a Pinhais durante sua gestão. O senhor acredita que haverá algum estremecimento nas relações com o partido e suas lideranças por sua desfiliação? Já foi questionado por alguma liderança sobre essa desfiliação?
Luizão: Não creio que as coisas ficarão estremecidas. Na política as relações se mantêm. Aqui em Pinhais, abri o jogo com o Diretório Municipal. Explanei minhas razões, ficou tudo muito claro. Conversei também com o Presidente Estadual do PT, Deputado Federal Ênio Verri. Foi tudo muito pacífico.
A Gazeta: Nas eleições de 2016, senhor apoiou as candidaturas de Marli e Rosa, em chapa sem o PT. Isso causou algum racha, alguma animosidade dentro do partido?
Luizão: Não chegou a rachar. Sempre tivemos discussões muito maduras no Diretório. Tomamos decisões muito claras. Claro que defendi algumas posições que prevaleceram dentro do partido. Isso causou algumas rusgas, mas não um racha. Havia outros nomes que queriam lançar candidatura a prefeito e a vice-prefeito dentro do PT. Orientei a Rosa Maria a sair do partido para poder viabilizar sua candidatura. Assim como orientei a chapa com a Marli em 2008 e o apoio à candidatura dela a Deputada Estadual em 2014. O objetivo foi pensar na expansão da política municipal, no crescimento do município politicamente. Se a Marli tivesse sido eleita Deputada Estadual, as coisas estariam diferentes. Pinhais já estaria sendo defendida a nível estadual. Não dá para ficar brigando internamente em detrimento do município. Quero, de agora em diante, pavimentar minha candidatura a Deputado Federal.
A Gazeta: De quais partidos o senhor já recebeu convite para filiação?
Luizão: Já vinha recebendo convites para filiação desde muito antes de anunciar minha desfiliação do PT. São propostas de vários partidos. Vou conversar com todos. Tenho de analisar minhas chances de ser eleito.
A Gazeta: O PROS da Rosa Maria, seria uma opção?
Luizão: Sim, há essa possibilidade. O PDT também é um bom partido e conta com o Deputado Federal Assis do Couto. O PROS tem o Toninho, da Fazenda Rio Grande, que talvez tente a reeleição. É preciso ver se há espaço para mais um. O PMDB tem muitos candidatos fortes, com mais de 150 mil votos, como os deputados federais João Arruda e o Hermes “Frangão” Parcianello.
A Gazeta: E o PSDB?
Luizão: Não, seria uma linha muito diferente. Ficaria muito complicado para eu defender essa posição .
A Gazeta: O PV?
Luizão: Um partido muito bom. Tem a Ex-Deputada Federal Rosane Ferreira, a quem apoiei em Araucária. Uma grande liderança.
A Gazeta: Um fato recente com o ex-presidente Lula chamou a atenção do país, durante o velório da esposa Marisa Letícia. Lula fez praticamente um comício ao discursar durante o funeral. Como o senhor avalia essa postura?
Luizão: Vejo com muita naturalidade o jeito dele. Foi criado um factoide em torno desse discurso. Mas é preciso lembrar que o Lula estava diante de pessoas amigas, de companheiros, e falou com naturalidade a pessoas que conheciam a família e aos companheiros de partido. Não houve nada demais naquele discurso emocionado. No velório do nosso saudoso Secretário José Zeitel, também discursei em homenagem, relembrando sua trajetória. Falei de forma empolgada. Se o discurso não contraria os fatos, os ideais da pessoa velada, não vejo mal nenhum nisso. Afinal, a Dona Marisa participou de toda a trajetória do PT, não houve contradição alguma.
A Gazeta: Quais bandeiras o senhor pretende defender como Deputado Federal?
Luizão: Entre as muitas bandeiras, quero focar na defesa da integração da Região Metropolitana com Curitiba. Enquanto presidente da Assomec, pude verificar bons resultados na defesa dessa integração visando o atendimento de demandas comuns, o desenvolvimento integrado da Região.
A Gazeta: No final do ano passado, o senhor realizou um encontro com lideranças da Região Metropolitana. Como o senhor avalia esse encontro?
Luizão: Uma receptividade muito boa por parte das lideranças. A Região Metropolitana conta com municípios que têm os mesmos problemas, demandas em comum, mas não estão unidos, ainda. Os prefeitos têm demonstrado uma boa receptividade à ideia de fortalecer a integração para o bem comum a todos os municípios.
A Gazeta: À frente da Assomec, tivemos a eleição do Prefeito Márcio Wosniak, de Fazenda Rio Grande. Na presidência do Conresol-Consórcio dos Resíduos Sólidos Urbano, a eleição do Prefeito de Curitiba, Rafael Greca. O senhor ficou satisfeito com esses resultados?
Luizão: O Márcio na Assomec foi uma boa escolha, uma vez que ele foi reeleito Prefeito, e para a presidência da entidade é preciso que seja um gestor em segundo mandato. Quanto ao Conresol, considero perfeitamente justo, plausível, que seja o Prefeito de Curitiba, já que a capital responde por 70% do lixo do Consórcio. O Márcio, a quem respeito muito, demonstra disposição de trabalhar, apesar de ser de um partido não alinhado a minha trajetória. Assim, como a Prefeita de Colombo, Beti Pavim, também tucana, e que foi eleita presidente do Consórcio da Saúde. A Beti teve nosso apoio. Já temos inclusive uma parceria no mini-consórcio para os serviços do SAMU e acredito que ela trabalhará pela integração. Não olhamos cores partidárias quando se trata de resolver os problemas comuns aos municípios. Os dois Consórcios estão em boas mãos, assim como a presidência da Assomec. Se essas lideranças articularem com os demais prefeitos, poderemos avançar bastante para ajudar a todos os municípios.