por Alexandro Martello, do G1, em Brasília
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu baixar os juros básicos da economia de 14,25% para 14% ao ano, um corte de 0,25 ponto percentual. A redução, a primeira da taxa Selic em quatro anos, foi anunciada pelo Banco Central no início da noite de quarta-feira (19).
O corte dos juros já era esperado pelo mercado. Analistas, porém, estavam divididos quanto à intensidade: redução de 0,25 ou de 0,5 ponto percentual.
Em comunicado, o Banco Central informou entender que a convergência da inflação para a meta central de 4,5%, fixada para 2017 e 2018, é compatível com uma política de corte de juros “moderada e gradual”.
“O Comitê avaliará o ritmo e a magnitude da flexibilização monetária ao longo do tempo, de modo a garantir a convergência da inflação para a meta de 4,5%”, diz a nota.
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, em mensagem no Twitter, comemorou a redução da Selic. Segundo ele, “a confiança na retomada da economia do Brasil anda a passos largos”.
De acordo com o BC, o ritmo do processo de redução dos juros nos próximos meses e uma “possível intensificação” dependerão de evolução favorável de fatores que permitam maior confiança no alcance das metas de inflação em 2017 e 2018.
“O Comitê destaca os seguintes fatores domésticos: que os componentes do IPCA [inflação oficial] mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica retomem claramente uma trajetória de desinflação em velocidade adequada; e que o ritmo de aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia contribuam para uma dinâmica inflacionária compatível com a convergência da inflação para a meta”, informou.
A instituição avaliou ainda que a inflação recente “mostrou-se mais favorável que o esperado, em parte em decorrência da reversão da alta de preços de alimentos”.
Isso, na visão da instituição, pode sinalizar “menor persistência no processo inflacionário”; que o nível de ociosidade na economia “pode produzir desinflação mais rápida do que a refletida nas projeções do Copom”; ou que os “primeiros passos no processo de ajustes necessários na economia foram positivos, o que pode sinalizar aprovação e implementação mais céleres que o antecipado”.
Além disso, o BC acrescenta que suas projeções recuaram desde o final de setembro. No cenário de referência, que pressupõe juros e câmbio estáveis, a previsão do BC para a inflação de 2017 já caiu para 4,3% – abaixo da meta central de 4,5% para o ano que vem.
“No cenário de mercado [que considera as estimativas dos economistas dos bancos para câmbio e juros], a projeção para 2017 manteve-se praticamente inalterada em torno de 4,9% e a projeção para 2018 aumentou para aproximadamente 4,7% – ambas acima da meta para a inflação para esses dois anos-calendário, de 4,5%”, informou o BC.
Série de cortes
Para os economistas dos bancos, este será o primeiro de uma série de cortes nos juros básicos da economia. A estimativa é de que o Copom, que se reúne a cada 45 dias, continuará a reduzir a Selic até setembro de 2017, quando a taxa deverá estar, pelas previsões, em 11% ao ano.
O aumento dos juros, ou sua manutenção em um patamar elevado, é o principal mecanismo usado pelo BC para frear a inflação. Com esse procedimento, o BC encarece o crédito. O objetivo é reduzir o consumo no país para conter a inflação, que tem mostrado resistência.
Porém, os juros altos prejudicam a atividade econômica e, consequentemente, inibem a geração de empregos. Quando o Banco Central julga que a inflação está compatível com as metas preestabelecidas, pode baixar os juros.
O Banco Central toma as decisões sobre a taxa de juros olhando para a frente e tendo como objetivo cumprir as metas de inflação previstas pelo sistema em vigor no país.
Para 2016, 2017 e 2018, a meta central é de inflação em 4,5%. Entretanto, o sistema prevê um piso e um teto, que é de inflação em 6,5%, em 2016, e em 6% em 2017 e 2018.
Isso significa que se a inflação deste ano, por exemplo, superar o alvo central de 4,5% mas ficar abaixo de 6,5%, o BC terá cumprido a meta. Entretanto, mercado estima um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao redor de 7% para 2016.